domingo, 31 de agosto de 2008

Fr. João Domingos - Bodas de ouro sacerdotais

Tive conhecimento dos cinquenta anos sacerdotais do Padre João Domingos através do colega Brízido. Já tinha coisas marcadas para o sábado dia 9 de Agosto, mas perante tal acontecimento, apressei-me a transferi-las para data posterior.

Não podia faltar à festa do Director do Seminário de Aldeia Nova que assinou o meu diploma de 5º ano que ainda conservo religiosamente, muito embora outros diplomas até à Faculdade de Engenharia do Porto fosse obtendo ao longo da minha vida.

Como resido no Porto, próximo do convento Dominicano de Cristo Rei, pedi ao Brízido para combinar com o Padre Bernardo e Padre Miguel a nossa viagem, e no dia 9 lá fomos até à Torre, Sabugal. A viagem fez-se rápida. As vias de comunicação de hoje não têm nada ver com as do tempo em que, estudantes do Semiário, tínhamos que utilizar para chegar do Porto a Sabugal, ou daqui até Aldeia Nova. A viagem durava quase um dia.

Fomos recebidos na casa da irmã do Padre João com aquela franquesa e galhardia própria dos beirões. De lá seguimos para a igreja paroquial onde se encontrava o Padre João Domingos.

Quando o vi, e dele me abeirei, espetou-se-me um nó na garganta pelas recordações que me assaltaram ao espírito, e o pouco que eu disse, e o abraço que demos, foi para mim o lenitivo da ausência de 47 anos que estivemos sem eu o contactar nem saber novidades dele.

O que se seguiu - a missa concelebrada com o Sr Bispo da Guarda e sacerdotes amigos, o almoço e convivência com os amigos presentes - foi o clímax da festa que me deu muita felicidade e comoção, o matar saudades que o Padre João Domingos nos criou..

Soube que a sua obra tem sido de um grande homem, de um grande religioso e de um grande missionário, quer em Portugal quer nomeadamente em Angola.

Para mim, o Padre João Domingos atingiu o nível da santidade, aquele em que uma pessoa irradia paz e felicidade naqueles com quem contacta, para além da obra realizada.

Foi essa sensação que experimentei ao estar com ele, ao contemplá-lo, a aura que senti na sua pessoa.

A partida e a despedida são sempre dolorosas, mas um até breve fica a separar-nos.

Que a sua obra continue e a saúde lhe permita realizar os sonhos que ainda mantém.

Pela formação que me deu e pelo exemplo que enformaram o meu carácter e a minha educação, o meu muito obrigado Senhor Padre João Domingos.

Até sempre.

Manuel Neves de Carvalho




2 comentários:

Unknown disse...

Neves:
Ainda bem que os "acanhamentos" dão este sentir pessoal e de muitos de nós.
Continua com a tua prosa, para além da música.
J.Moreno

Anónimo disse...

Também eu estive na Torre- Sabugal que, como disse, salvo o erro, o Sr. Vigário Geral da Diocese, no dia 9 de Agosto, subiu mais alto do que o outra torre da serra ali ao lado. Como muitos dos presentes, fui discípulo do Padre João Domingos, admiro-o, estou-lhe muito grato e só me faltava conhecer a terra que o viu nascer e donde partiu, ainda menino, para "tirar um curso que fosse barato", para não desfalcar muito as economias da família. Fez o que pôde e às vezes o que não podia, para que também nós tirássemos o mesmo curso, utilizando para isso a mesma política de preços. Nem sempre foi bem sucedido, por culpa nossa, mas para todos foi um grande mestre: sábio, sóbrio, generoso e prático. Recordo-me sempre dos seus incentivos, do seu optimismo e espírito empreendedor, vícios estes que se entranharam nele até aos dias de hoje. Generoso? Mais do que isso: era em Aldeia Nova o homem dos 7 ofícios e ainda lhe sobrava tempo para "ensinar" a cortar o cabelo, a consertar petromaxes e a distribuir aos seminaristas doentes comprimidos de quinino ou lá o que fosse com chá quente, à noite, nas costumeiras epidemias de inverno. Na sua estratégia e prática de educador, como principal responsável pelos "estudantes" (era assim que gostava de chamar aos seus rapazes)espalhou naquela casa um ar de modernidade nas atitudes pedagógicas e ideias, fruto de quem percebia os sinais dos tempos marcados pela década de 60, para que na base dessa educação estivesse sempre uma forte dose de desinibição e de responsabilidade nos actos e opções dos candidatos àquele curso "barato". Sabemos que esta orientação nem sempre foi bem entendida por superiores seus. Em compensação, pedia-nos responsabilidade, sempre mais responsabilidade. Nunca nos abandonava, mesmo depois de sairmos de Aldeia Nova; daí que procurasse visitar-nos, logo que lhe fosse possível, nas nossas casas, no noviciado, no estudantado, estivéssemos nós em Fátima, Valência, Barcelona ou na remota Cochinchina... Das intervenções e material utilizado na comemoração do dia 9, era evidente que não estávamos perante um cidadão qualquer, mau grado o seu esforço em responder que era igual a todos. Sabemos que até no exercício da virtude há quem seja mais igual do que outros.
Comungo das mesmas sensações do Neves, nesse dia, que nos encheu de orgulho. Espero que continue a aparecer por cá, como irmão mais velho. E, como escreveu, até à próxima.
Ferraz