domingo, 3 de fevereiro de 2008

COMENTÁRIO AOS COMENTÁRIOS...


Há uns meses que me faço violência para não intervir nestes debates. Isto é contra a minha natureza, como sabem aqueles que mais me frequentaram e bem me conhecem.
Não me dirijo aos ex-seminaristas, ou ex-frades ou ex-colegiais, mas aos homens que hoje somos e que não podemos definir-nos como "ex", pois vivemos no quotidiano, e somos, “hic et nunc” o resultado e a soma de tudo o que até ao momento presente vivemos . Fomos construidos, quer queiramos quer não, por todas as nossas experiências, e não só as positivas. O facto de vivermos com pragmatismo o momento presente “carpem diem” não nos impede de dar uma olhadela para tràs e assumir o que fomos e que faz parte do que somos. Do caderno que cada dia escrevemos, não podemos rasgar nenhuma página (recordai os cadernos antigos) se rasgamos a primeira página, a última também vai cair, as duas fazem parte da mesma folha...
Lí com muita atenção os comentários do Alexandrino, Celestino, Eduardo Bento, Jaime, Nelson...
Lí com redobrado prazer (benvindo) as vários intervenções do Manuel Ferraz Faria. Desculpa lá, amigo Ferraz, o teu nome fala-me, mas não consigo visualizar-te. Podes falar-nos um pouco de tí, dando-nos alguns índices para que possamos localizar-te na nossa memória... Em todo caso obrigado por tuas intervenções e pelas palavras lisonjeosas sobre o poema da minha mulher.
Falemos agora dos anónimos... IS. SD. FD. IKVC. DD... Nunca, em nenhuma circunstância, tive qualquer problema em assumir-me como ex-seminarista ou ex-frade. Parece-me que sempre me orgulhei do meu passado. Tenho orgulho em ser transmontano, em ser filho de lavradores, em vos ter tido como colegas e amigos. Compreendo, no entanto, que alguns, nos anos 60 ou 70, ao sairem de Aldeia Nova ou de Fátima, não tenham assumido esse passado que, na época, tinha uma conotação muito negativa. Muitos construiram-se, e podemos compreender, na negação desse periodo de suas vidas e é-lhes hoje impossível escrever para o blog ou assinar o que escrevem, sem correr o risco de ser lidos por amigos que ignoram esta faceta de suas vidas...
Os anónimos são bem vindos ao nosso blog. O Nelson nunca os estigmatizou. O blog nunca se portou tão bem como na época em que um famoso Oliveira e um tal Ezequiel Vintém enriqueceram suas páginas. A única diferença é que o administrador estava ao corrente. Estou absolutamente de acordo com o Nelson. Todo aquele que colabora no blog deve identificar-se perante ele. Pode pedir para que seu nome fique completamente secreto, ou que seja revelado unicamente aos outros colaboradores, o que será respeitado. Tenho a certeza que o filho do Nelson encontrará um meio para eliminar ràpidamente do blog todo aquele que não se tenha préviamente identificado. Agir diferentemente seria abrir o nosso blog a pessoas mal intencionadas que nada têm a ver com o nosso passado e se estão marimbando com o nosso presente e ainda mais com o nosso futuro. Se técnicamente isso não fosse possível teriamos que suprimir a rúbrica “comentários” endereçando-os directamente para o Nelson que só os
publicaria se o autor se fizer conhecer... Longa vida ao nosso BLOG!
Fernando Vaz.

13 comentários:

Anónimo disse...

Prefiro comentar aqui, mais um comentário de um anónimo que respigou da entrevista do Fr. Bento Donmingues, os medos, as vergonhas e os respeitos humanos dos seminaristas, ou "estorninhos" como dizia o Zé Celestino com o seu extraordinário sentido de humor. Estou contigo Fernando! Nós frequentámos o seminário Dominicano de Aldeia Nova. E os incomodados o que frequentaram?... O LICEU DOMINICANO DE ALDEIA NOVA?
É que ainda não apareceu ninguém a fazer a história daquela velha casa que Fr. Bento tão bem define. Ele frequentou a Escola Apostólica, nós o Seminário e os outros. Que venham e digam pois, como há dias sugeria o Ferraz, seria desejável que fizesse a história daquela "velha casa"! Já agora Fernando, estou a pensar seriamente na tua sugestão, de poder barrar a entrada de anónimos.

Anónimo disse...

Gostaram do "anónimo" que juntou a entrevista do frei Bento Domingues, O.P., quando leu que alguém a queria?

O blog deixou de ser "paroquial", porque os fundadores aborrecem-se quando aparece algum assunto de que não estavam à espera, apesar de estar enquadrado pelo objectivo expresso.

Parece que foi o caso de um "anónimo" sobre quem estão a fazer conjecturas rebarbativas, talvez por falar:

(a) na comprovada impreparação dos párocos medievais no tempo do fundador da O.P.;

(b) na dificuldade de muitos para falar no nascimento, em comparação com a facilidade em falar na morte, assunto que até está muito bem explicado na entrevista de um teólogo, transcrita no blogue.

Há maneira de conseguir que os comentários on line só sejam vistos na internet depois de terem sido aprovados pelo editor do blogue. Há vários que o fazem há muito tempo.

Há muitos outros em que a inclusão de comentários depende de uma inscrição prévia, on line, com um nome e um email, sem o que é impossível gravar o que quer que seja.

Entre a maioria, como o "criarlacos", há apenas uma relação de confiança entre os editores e os leitores, parece.

Ser-vos-á fácil encontrar quem dê uma ajuda tecnológica, bem, "pro bono" e "anónima".

Vejam lá se não continuam a afugentar quase toda a gente com essas pretensas superioridade e coragem. Afinal, onde está o "mal"?

"Deus faz o que pode", não é?

Anónimo disse...

O mal reside no facto de este blogue ter sido concebido para nos conhecermos, e torna-se difícil (não impossível) conhecer quem se esconde. Se um anónimo não tivesse transcrito a entrevista para os comentários, ela iria aparecer nos "post's"... e irá concerteza.

Isidro disse...

Caro Nelson

Se o conteúdo dos comentários anónimos de 2008 não tem utilidade para a razão de ser do blogue, pode retirá-los. Não são todos meus, mas vejo o assunto assim.

Quando escrevi a primeira mensagem, identifiquei-me apropriadamente perante o sistema blogger supondo que isso criaria um registo no blog, sobre cujas características técnicas nada indaguei.

Não utilizei nenhuma técnica de dissimulação que tornasse especialmente difícil conhecer a minha identidade, mas só a dou quando quero, a quem quero. Outras pessoas que tenham acesso à mesma, terão de se conformar com certas regras gerais e bom-senso.

Não me escondo, nem escondo nada, mas gosto mais do silêncio. Escrevi nos comentários, porque estão relativamente abrigados da indexação dos grandes motores de pesquisa e isso está mais de acordo com o meu modo de estar.

Não há nada que me pareça eterno mas, nos próximos tempos, dificilmente encontrarei maneira de fazer qualquer comentário adicional.

P.S.

Porque é que retirou o bonito símbolo do antigo Seminário Dominicano?

Quanto à expressão "Centros Dominicanos", está certa para abranger várias realidades. Em alguns países chamam-se "Centros de Retiros".

Anónimo disse...

Acabei de receber, por e-mail de alguém que não vejo há muitos anos a seguinte mensagem:

"...Eu não faço comentários no blog, mas gosto muito de os ler.
Seria uma pena se desaparecessem de lá algumas "provocações"
Parece-me que o Ferraz é mais velho que nós ...poucos... anos. Era bom de bola...".

E esta?

Anónimo disse...

Homessa! Será que passei ao lado de uma grande carreira?... Ó meus velhos, com essas características, parece-me que não sou eu. De qualquer modo, venham daí esses ossos!

Anónimo disse...

Não precisas de agradecer nada, Fernando Vaz, pois foi e é para mim um enorme prazer o reencontro nesta casa que tem o "Vô Né" por anfitrião. Assim tenha ele paciência suficiente para nos aturar que, quanto ao resto, pode certamente contar com o nosso enlaçado abraço.Ainda que pareçam dissonantes,não podem os anónimos queixar-se da dignidade do blogue que, estou convicto,contará com mais gente amiga a renascer do passado comum.Acho bem relevarmos e até adoptarmos aqui, pacificamente, a existência dos dois famosos anónimos - o Imeldo e o Pancrácio - dos quais espero, a todo o momento, a 2ª edição ainda mais pícara e devastadora.
Não me espanta que não te recordes bem de mim, assim como a rapaziada do teu tempo. Passei despercebido, porque não fiz tantas asneiras como vós, que o diga o P.João Domingos e os seus nervos de aço. Quando entrei para A. Nova tinham vocês começado o noviciado. Mas, mais tarde, ainda coincidimos algum tempo juntos, em Fátima. Foi exactamente na véspera da diáspora, em 67. Antes de partires para Itália,recordas-te certamente de assistires, piedodo e muito concentrado, nesse Setembro, à tomada de hábito de 4 "nubentes" que, a seguir, partiriam a caminho de Valência (Espanha). Um deles era eu e os outros o Zé Lopes, o Abílio e o Paulo; este último de Lisboa e os restantes, todos minhotos, mais ou menos da terra do Horácio. Como ilustração, não é preciso ir mais longe, pois se observares as fotos de 4ª feira, 2 de Maio de 2007 "...último encontro em Aldeia Nova...", eu estou lá, logo na 1ª foto: sou o 3º a contar da esquerda, da 1ª fila, em frente ao Carlos Baleco. Não digo mais nada, senão ainda te vais lembrar de uma anedota velhinha que te contei nessa altura e que tinha a ver com as asas do Boeing 707 e o papel higiénico. Um abraço. Até logo.

Anónimo disse...

Formidável ! As fixas posicionaram-se no devido lugar… Não és o terceiro mas o quarto, pois temos que contar com o Neves. ¾ dele valem bem um inteiro... Essa do Boeing 707 e do papal higiénico recordo-a perfeitamente mas não sabia que vinha de ti. Os americanos tomaram como modelo para a fabricação de suas asas, o papel higiénico portugues que nunca partia por onde devia. Eras meio comediante, por isso é que nunca esquecí. Gostei de reencontrar-te neste espaço comum de que ninguém é proprietário mas de que todos devemos sentir-nos responsáveis. Como tu, também eu gosto imenso de ler os anónimos e penso que eles injectam uma certa frescura e ligeireza de que muitos gostam, visto que as visitas têm aumentado. Por favor digam ao Nelson quem são (ele sabe guardar segredos) e continuem a escrever sendo ainda mais impertinentes. Que venham Vinténs e Imeldos. Iconoclastas como esses não me amedrontam, muito pelo contrário. Eles revigoram o blog. Há uma só condição: que se apresentem ao Nelson, para que tenhamos a certeza que são dos nossos! Talvez seja eu o anfitrião destas páginas (nasci em outubro de 1940) mas continuarei vivo e dinâmico enquanto jovens como tu me apreciarem e me aceitarem como um deles. Um grande abraço amigo Ferraz! Estás de novo gravado na minha memória. Fernando.

Anónimo disse...

Meu caro Isidro:
O radicalismo não faz parte da minha postura. Sou tolerante e se quisesse apagar os comentários anónimos, já o tinha feito. Não vou por aí, como escrevia José Régio. O que eu gostava, e convirá que seria salutar, era que todos nos conhecessemos por meio deste blogue. Os encontros anuais, mal dão para abraçarmos aqueles com quem partilhámos a nossa infância, adolescência ou juventude. Mas respeito os silêncio, mas só o dos silenciosos, repare bem. Retirei o símbolo do "Seminário Dominicano" da mesma forma que o coloquei - sem a opinião de ninguém - e retirei-o de uma carta que tenho guardado e continuarei a guardar religiosamente, que me foi endereçado pelo bom amigo e grande mestre Fr. João Domingos Fernandes, irmão do Fr. Pedro. Eu sei que ele (o símbolo) incomodava alguns frequentadores do blogue e isso será a última coisa que eu quero. Apareça sempre, não vire as costas a este espaço.
Meu caro Ferraz:
Pelas datas que referes ao Fernando, não nos cruzámos em Aldeia Nova. Eu, fiquei à porta do Convento de Fátima, enquanto o Fernando, o Vitorino, o Rufino, o Domingos e o Arnaldo lá foram entrando, sem esconderem a emoção de me ver ficar.
Para fazewr o traço-de-união, é que criámos este espaço.
Um abraço.
Nelson

Isidro disse...

Os estorninhos são aves que se deslocam em grupos grandes, as asas mudam de cor quando há Sol e, em contacto com humanos, tornam-se um pouco agressivos, à bicada. Não lhes conheço nada parecido com "medos, vergonhas e respeitos humanos".

Se existiam, acabaram em 1966 com a realização de exames no Liceu Nacional de Leiria e nos 3 anos seguintes, com a ajuda de professores laicos de Ciências, Física, Geografia, Matemática e Inglês, lado a lado com os bons já existentes em Português, História e Francês, sob a superior direcção de dois membros da O.P., sem prejuízo dos elevados méritos de outros e das irmãs que eram nossas cozinheiras e lavadeiras.

A novidade foi a referida ida ao Liceu, não o facto de, com um pontapé na bola, eu ter partido o novo chafariz instalado atrás da baliza pelos nossos igualmente desastrados engenheiros, ter ganho alguns prémios literários e matemáticos, ou obtido elevada votação para a direcção da Academia. Muitos outros podem contar as suas inúmeras vitórias e combates, em dimensão mais ampla que a minha. Deixo ao seu cuidado a descrição do fantástico período que vivemos entre Outubro de 1966 e Julho de 1969, porque não quero roubar as memórias de ninguém, nem as de 1969/71, por reforçadas razões no mesmo sentido.

No meu grupo há gente licenciada em Ciências Jurídicas, Económicas, de Engenharia e Educação Física, bem como profissionais altamente qualificados em outras áreas, todos em exercício de funções compatíveis com a respectiva formação inicial e complementar. Que eu saiba, ninguém ficou a tremer á saída, nem á deriva.

Liceu Dominicano de Aldeia-Nova? - Sim, Senhor, como Secção Particular Doméstica do Liceu Nacional de Leiria, por força da aplicação dos regulamentos vigentes nesse tempo. O nosso grupo criou os homens livres que somos desde há muitos anos.

Anónimo disse...

Permite, amigo Ferraz, que traga um pequeno correctivo à palavra Anfitrião que utilizei num sentido pouco académico. Na verdade Anfitrião, ( depois de Molière ter criado a peça, inspirado por Plaute , e a ter representado perante a corte françesa e em preseça de louis XIV em 1668) significa: aquele que recebe em casa, para jantar... a frase que está na peça é a seguinte “Le véritable amphitryon est l’amphitryon ou l’on dîne” É por isso que aqui em França há um agrupamento de restaurantes a que deram o nome de “Amphitryon”. Esta palavra tem muitos outros significados... Vou ficar só com este: Anfitrião, aquele que acolhe... Um abraço para todos os amigos, Fernando.

Isidro disse...

Escrevendo aqui, fora das últimas notícias do blogue, não corro o risco de ter visibilidade não merecida e sempre retribuo um pouco de estima aos que apreciam referências como a presente.

Já indiquei o meu perfil mais acima. É pouco importante que o considerem um nome ou um pseudónimo. Passei aqui para ver se encontrava alguém mais próximo de mim, do tempo de Aldeia-Nova e, no que participo, interessam-me mais as ideias, ou a falta delas, porque, à distância de 40 anos, todos mudámos muito.

Depois de ler o J. Moreno, no seu artigo de 29-Fev-2008, no qual se refere ao Ferraz e a outros que eram bons a jogar à bola, voltei aos presentes comentários para acertar as minhas recordações.

Dentre o grupo mencionado pelo Ferraz, lembro-me do Abílio e do Paulo e do próprio Ferraz, bem como de outros do mesmo grupo, mas não os menciono, porque não sei se já mostraram a sua presença neste blogue e, em concreto, só sei um pouco da vida posterior de dois, por acaso com algumas indicações referentes aos últimos anos. Desejo-lhes o melhor, em Madrid e em Lisboa.

O Paulo era considerado pelo frei João Domingos, O.P. (um dos directores, para alguns o Director), como o aluno mais inteligente de sempre naquela escola. Não posso garantir que seja, porque me apercebi do grande valor de alguns outros da mesma idade e mais novos. Porém, estou certo que o Paulo tinha algo de especial que nós sabemos ver em certos contextos, mesmo quando ainda somos pré-adolescentes.

O Ferraz era um um extremo à maneira antiga, como se fosse um futebolista nervoso com a bola nos pés. Mera aparência. Era disciplinado em campo e, fora do jogo, um símbolo de tranquilidade, de que ele próprio parece lembrar-se em comentários que dirigiu ao Fernando Vaz, indicando-lhe detalhes que o tornassem reconhecível.

Desse tempo, quem se lembra e um guarda-redes chamado Zé Maria, um homem com H grande quando se apercebia que alguém tentava intimidar os recém chegados de 1964 e 1965, pertencentes a grupos de maior dimensão que o usual? (Aqui, por uma questão de elementar correcção, não menciono outros nomes que tiveram papéis idênticos, porque não sei se escreveram aqui algo que permita supor que possam aceitar a menção).

Finalmente, e porque tem havido por aqui uma certa polémica em relação ao anonimato na internet, convido-vos a ler um artigo de Francisco Bairrão, publicado no blogue limpidamedida em 1-Mar-2006:

"...Questão prévia: o anonimato não se confunde com o nome (próprio) e em que medida o nome resolve ou não a questão do anonimato - questão magna na moderna filosofia da linguagem (já para não ir à clássica), pelo menos desde John Stuart Mill, e de certeza desde Russel e Frege, cf., por todos, Saul Kripke, Naming and Necessity.

1. Artificialidade

Em primeiro lugar trata-se de uma questão artificial. E artificial da pior maneira: invocando-se como autêntica, material, genuína. Um dos principais argumentos para criticar o anonimato é dizer que a pessoa que se esconde por trás de um nome falso está diminuída, perde em frontalidade, em coragem, em assunção. Ínsito neste artificial argumento está, pois, a ideia de que o nome revela mas, sobretudo, compromete. Isso, não sendo necessariamente verdade, quanto muito só se aplicaria a pessoas cujo nome seja reconhecido. O que venha a ser este reconhecimento é outra artificialidade que, no limite, só pode ser explicado por recurso à burocracia. Isto é, pretende-se e criou-se uma blogosfera como espaço livre e democrático de expressão mas exige-se que sejam apresentadas credenciais para justificar formalmente o conteúdo material. O mais curioso é que esta crítica vem de muita gente que, em sede diversa, afirma que a obra, se boa, se destaca do autor (enviado para a irrelevância).

1.2. Falsidade

Mas, em bom rigor, o argumento sendo artificial é, igualmente falso. Em nome da ideia de que ao assinar um texto, com o nome verdadeiro, quebrando o anonimato, se sela um compromisso, uma ligação entre alguém real e o seu testemunho virtual é, não só autoritário (no pior sentido) mas, sobretudo, falacioso. Serve apenas para perpetuar um elitismo blogosférico, entre aqueles que se reconhecem e podem ser reconhecidos socialmente. Dizer que assim não é, é aceitar que quem se chame Pedro e assine Pedro, quebrando o anonimato, se compromete com as suas posições, os seus textos. Isto é pura e simplesmente ridículo (na medida em que se compromete com um nome que não tem outra conotação que o próprio texto, Russell)

Sejamos claros, uma coisa é escrever um texto mau e assinar Pacheco Pereira, outra é escrever um texto bom e assinar Pedro. Mas,

1. O texto mau e o texto bom não o deixam de ser por terem autores com graus de reconhecimento diferentes (neste casos extremos).
2. Qque grau de compromisso oferece Pacheco Pereira ao seu texto mau e Pedro ao seu texto bom (ou vice-versa)? De um podemos dizer saber quem é, de outro não. O que interessa isso? Aparentemente interessa tudo.

Na blogosfera as aparências são o que mais conta.

2. Hipocrisia

O argumento do anonimato é hipócrita. Já o indiciámos, desenvolvemo-lo agora. Trata-se de um argumento, como já se percebeu que nada tem que ver com o nome mas com um reconhecimento que, evidentemente o nome não permite fazer. O problema não é assinar Pedro é não se saber o que traz Pedro referenciado. Coisa que está (mais) resolvida quando o texto é assinado Pacheco Pereira.

Daí que se conclua, afinal, que o que exigem aqueles que estão contra o anonimato blogosférico é uma espécie de sistema auto-referenciador em que só têm sentido aqueles que por ele podem ser referidos, isto é, aqueles para quem um nome refere um conjunto de predicados notórios e reconhecidos. Assim se assinar Pacheco Pereira sei que "Pacheco Pereira" encerra os predicados tal e tal, por exemplo historiador e político. Mas se assinar Pedro não há predicados para referenciar, excepto, ironicamente, aqueles que constituem o blog. Ou seja, crio um sistema tautológico e hipócrita na medida em que ao defender o fim do anonimato não resolvo coisa nenhuma. Apenas beneficio aqueles que já teria, de qualquer forma, notoriedade pública.

3. Desigualdade

Daí que propugnar contra o anonimato seja também um bom exemplo de segregacionismo, em que se utiliza tal artifício para conseguir controlar um universo que é potencialmente anónimo. E que gosta disso. Repare-se, eu tenho dois nomes próprios e dois apelidos, basta que use combinações pouco conhecidas dos nomes próprios e apelidos para que, não estando a ser anónimo, num sentido formal, continue anónimo num sentido material, isto é, continuo a usar nomes que não permitem qualquer referenciação pública. Não dizem de mim que sou o autor tal do livro tal ou que tenho esta ou aquela ocupação, que pertenço a esta ou aquela agremiação.

Aliás, o falso nome, com o intuito de proteger o anonimato é, de há muito, um direito reconhecido aos cidadãos. O artigo 74º do Código Civil prevê que "o pseudónimo, quando tenha notoriedade, goza da protecção concedida ao nome":

1. É o pseudónimo que tem de ter notoriedade e não a pessoa que o utiliza, que pode ser totalmente desconhecida.
2. Há uma equivalência entre pseudónimo e nome, mesmo sendo os seus propósitos antagónicos: o nome visa estabelecer uma relação necessária entre um ser humano e uma necessidade simbólica de identificação; pelo contrário o pseudónimo visa ocultar essa necessidade simbólica substituindo-a por uma simbologia falaciosa, que sobre o necessário cria um espaço de determinação. Não é alheio a isto o interesse de relacionar o pseudónimo não com um ser humano - físico e psicológico - mas com actividades humanas, derivações do ser humano que utiliza o nome verdadeiro.

Por tudo isto, sintetiza-se a posição de fundo. A crítica ao anonimato na blogosfera é artificial, hipócrita e segregacionista e só pode ser compreendida como uma forma de querer desviar as atenções do material - o que é apresentado tendo o blog como veículo - para um discurso de autoridade, redutor, formalista e controlador.."

Anónimo disse...

La ringrazio per intiresnuyu iformatsiyu