É com um misto de pavor, e o vibrar de gratidão que me dirijo a todos os leitores do Criar Laços, a ponte que me levou a encontrar os ex-residentes de Aldeia Nova. Falo só de Aldeia nova, porque a minha estadia foi curta, mas valiosa, definindo toda a minha existência até hoje. Como este texto tem somente o objetivo de partilhar a minha identidade, vou me apresentar para que alguns me possam identificar e outros possam perceber, este sentimento de gratidão que me acompanha há mais de 50 anos.
Nasci a 19 de novembro de 1954 numa pequena, mas agradável aldeia do Alto Douro na freguesia de Paços / Sabrosa. Minha mãe filha de uma viúva bem-sucedida na vida, encanta-se pelo primogénito de uma família pobre e numerosa. O casamento contra vontade de minha avó materna, detentora do comercio da aldeia, em nada facilita as tentativas de meus pais singrarem e serem bem-sucedidos. Depois de seis anos de casamento eu já com quase 5 anos de idade, e meu irmão com 3 anos, vendem os poucos bens que possuíam na altura, que pouco mais seria que uma vaca, um poldro, uma burra e um porco viemos os 4 mais o cão preso por um baraço, apanhar o comboio no Pinhão com destino a Santa Apolónia. Viviam-se finais da década de cinquenta e na capital fervilhava a esperança de uma vida prospera com a execução das obras projetadas pelo já falecido Duarte Pacheco. A profunda ignorância da época levava pessoas boas á convicção de “só com sacrifício se consegue alguma coisa na vida”. A sede por uma vida melhor, aliada a ausência de medo sofrer, conduziu-nos ao submundo dum bairro da lata, na estrada que circundava a cidade de Lisboa. Foi num desses bairros, (penso que o pior de todos), que experienciamos o verdadeiro inferno. Foram 7 anos de luta constante pela sobrevivência, até que cheguei a Aldeia Nova, em 1966 conheci o outro lado. Ai fiquei a saber que os caus e a ordem são uma coisa só.
Apesar de saber que somo todos diferentes, e que cada um que por lá passou, tirou de “aldeia nova”, o que na verdade precisava tirar; eu tirei tudo quanto sou, porque não tinha rigorosamente nada. Sem os dominicanos, estaria onde estão mais 95 % dos rapazes e raparigas daquele bairro. Mortos ou presos numa cadeia. Não conheço ninguém ainda vivo que conseguisse sair da luta pela sobrevivência, nem mesmo meus irmãos mais novos, consegui resgatar desse mundo miserável em que predador e vitima, dançam em alternância até a morte.
O que faço hoje 50 anos após ter deixado Aldeia nova? Hoje coordeno uma casa escola, que oferece um leque variado de soluções simples, para quem ainda não encontrou um sentido para vida, baseadas nos princípios da moderna física quântica, que mostra de uma forma cientifica, simples e clara, o que na verdade aprendi em Aldeia Nova.
Com esta descrição pretendi ser reconhecido pelos alunos que frequentavam a casa de Aldeia nova em 66 /67 Espero ter noticias de todos que ainda não encontrei.
Como não quero fazer perder a cabeça ao Nelson, despeço-me com um até breve.
António Teixeira Fernandes também conhecido pelo “Manchester”
1 comentário:
O Teixeira Fernandes apresenta-se e deixa um retalho bem vincado das vidas de então. Quem se lembra dele? Venham mais e animem o blog.
Abraço
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