Nunca
me senti tão constrangido como nestas alturas, para evocar e recomendar a paz,
as férias, o descanso e a celebração de encontros de antigos e novos amigos. Em
momentos de tanto alarido e animosidade, tropeçamos com emblemas, estandartes e
bandeiras desfraldadas, bem identitárias e de colorido adverso, que pregam ao
mundo o que nos distingue e muito pouco o que nos faz iguais. E, de permeio
como argamassa bruta e desagregadora, está essa tão nobre e libertadora atividade
desportiva…
Não
pretendo ser desmancha-prazeres - palavra que não! - mas passado já o equador
do Euro 2016, neste calor justiceiro de julho, creio que a pior glória da
seleção de qualquer país seria a vitória final, pois não parece ser assim tão
honrosa e satisfatória a vil submissão dum hipotético adversário, que a
multidão nacionalista extrapola para além do desporto.
E o meu desassossego está
para durar todo o bendito verão, pois para além desta competição europeia e
outra americana do mesmo teor, seguir-se-á uma mais olímpica, em agosto, por
desgraça também entre nações: sempre para confraternizar e fazer amigos, mas
muito atentos ao ranking das nações e com picardias pelo meio. Não sei o que
teria em mente o ilustre barão P. Coubertin ao modernizar esta “guerra” que
fundou o COI, mas podia ter sido mais previdente e criativo quando misturou
desporto com nacionalidades. São frequentes as bulhas e atitudes menos
desportivas entre atletas e a sua retaguarda, tudo bem alimentado e vendido a
bom preço pela comunicação social menos recatada.
Há
meia dúzia de anos, na véspera de mais um confronto mundial de futebol,
realizado na África do Sul, caiu-me nas mãos um artigo dum órgão de cobertura
internacional e diária em que o autor lamentava o que aí vinha e iluminava
claramente a face escura do evento. Não sei se o mesmo autor era propenso à
prática desportiva, mas pareceu-me que tinha uma mente sã, embora desconfio que
não revelava grande afeto e talvez jeito para a bola. Não obstante, tinha
alguma razão em criticar o desfile de vaidades, a voracidade das marcas
patrocinadoras, a presunção da força, a estatuto menor do adversário, às vezes
inimigo, e também os gastos astronómicos numa atividade que deveria ser mais
aberta, generosa e democrática. Está fresca na nossa memória a forma como os
gestores destes organismos se blindam em robustas estruturas herméticas e aí se
cozinham muitas vezes resultados desportivos, chantagens, favores e… quanta
corrupção!
Tinha razão quando
ilustrou alguns dos seus argumentos com casos de violência, por vezes
premeditada, com a promoção de atitudes e ideologias intolerantes, práticas de
autoritarismo e sancionamento de regimes políticos hediondos, ao longo da
história recente, utilizando o desporto mais natural e ingénuo e seus
respetivos eventos como suportes astuciosos.
Aquilo
que deveria ser um evidente encontro de pessoas e povos, acontece descambar em
competição desenfreada e excludente, que torna esses povos cada vez mais azedos
entre si, maquinando vinganças na volta em nome de uma honra duvidosa e mórbida
e de uma fronteira física ou convencional que apela constantemente à origem das
desavenças. E tudo isto com constante gritaria de hinos e exuberância de marcas
nacionalistas em todos os mastros, janelas e cordas da roupa.
O
desporto, mesmo aceitando a competição, não mereceria tais práticas e atitudes
e muito menos o desvirtuamento do sentido de encontro. Estamos no tempo ideal e
propício para férias, para os verdadeiros encontros, onde todos saem a ganhar.
Até nós! Não os deixemos cair. E, a propósito, aqui enviamos provas de bons
desportistas obviamente num encontro, sob a mesma bandeira.
Até
breve.
Manuel
Ferraz Faria
1 comentário:
Grande FERRAZ FARIA, o "terrível" ponta de lança (9) da forte equipa do Seminário em 1966 e 1967, onde pontificavam outros grandes nomes como o Zé Maria (guarda redes), Abílio, João Gonçalves, Evangelista, José Lopes etc. etc. E os Padres Antonino, Martinho e João Leite; Grandes tempos.
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