terça-feira, 2 de agosto de 2016

Outras guerras em tempo de estio





         Nunca me senti tão constrangido como nestas alturas, para evocar e recomendar a paz, as férias, o descanso e a celebração de encontros de antigos e novos amigos. Em momentos de tanto alarido e animosidade, tropeçamos com emblemas, estandartes e bandeiras desfraldadas, bem identitárias e de colorido adverso, que pregam ao mundo o que nos distingue e muito pouco o que nos faz iguais. E, de permeio como argamassa bruta e desagregadora, está essa tão nobre e libertadora atividade desportiva…
         Não pretendo ser desmancha-prazeres - palavra que não! - mas passado já o equador do Euro 2016, neste calor justiceiro de julho, creio que a pior glória da seleção de qualquer país seria a vitória final, pois não parece ser assim tão honrosa e satisfatória a vil submissão dum hipotético adversário, que a multidão nacionalista extrapola para além do desporto.
E o meu desassossego está para durar todo o bendito verão, pois para além desta competição europeia e outra americana do mesmo teor, seguir-se-á uma mais olímpica, em agosto, por desgraça também entre nações: sempre para confraternizar e fazer amigos, mas muito atentos ao ranking das nações e com picardias pelo meio. Não sei o que teria em mente o ilustre barão P. Coubertin ao modernizar esta “guerra” que fundou o COI, mas podia ter sido mais previdente e criativo quando misturou desporto com nacionalidades. São frequentes as bulhas e atitudes menos desportivas entre atletas e a sua retaguarda, tudo bem alimentado e vendido a bom preço pela comunicação social menos recatada.
         Há meia dúzia de anos, na véspera de mais um confronto mundial de futebol, realizado na África do Sul, caiu-me nas mãos um artigo dum órgão de cobertura internacional e diária em que o autor lamentava o que aí vinha e iluminava claramente a face escura do evento. Não sei se o mesmo autor era propenso à prática desportiva, mas pareceu-me que tinha uma mente sã, embora desconfio que não revelava grande afeto e talvez jeito para a bola. Não obstante, tinha alguma razão em criticar o desfile de vaidades, a voracidade das marcas patrocinadoras, a presunção da força, a estatuto menor do adversário, às vezes inimigo, e também os gastos astronómicos numa atividade que deveria ser mais aberta, generosa e democrática. Está fresca na nossa memória a forma como os gestores destes organismos se blindam em robustas estruturas herméticas e aí se cozinham muitas vezes resultados desportivos, chantagens, favores e… quanta corrupção!
Tinha razão quando ilustrou alguns dos seus argumentos com casos de violência, por vezes premeditada, com a promoção de atitudes e ideologias intolerantes, práticas de autoritarismo e sancionamento de regimes políticos hediondos, ao longo da história recente, utilizando o desporto mais natural e ingénuo e seus respetivos eventos como suportes astuciosos.
         Aquilo que deveria ser um evidente encontro de pessoas e povos, acontece descambar em competição desenfreada e excludente, que torna esses povos cada vez mais azedos entre si, maquinando vinganças na volta em nome de uma honra duvidosa e mórbida e de uma fronteira física ou convencional que apela constantemente à origem das desavenças. E tudo isto com constante gritaria de hinos e exuberância de marcas nacionalistas em todos os mastros, janelas e cordas da roupa.
         O desporto, mesmo aceitando a competição, não mereceria tais práticas e atitudes e muito menos o desvirtuamento do sentido de encontro. Estamos no tempo ideal e propício para férias, para os verdadeiros encontros, onde todos saem a ganhar. Até nós! Não os deixemos cair. E, a propósito, aqui enviamos provas de bons desportistas obviamente num encontro, sob a mesma bandeira.

         Até breve.

                Manuel Ferraz Faria

1 comentário:

Francisco António disse...

Grande FERRAZ FARIA, o "terrível" ponta de lança (9) da forte equipa do Seminário em 1966 e 1967, onde pontificavam outros grandes nomes como o Zé Maria (guarda redes), Abílio, João Gonçalves, Evangelista, José Lopes etc. etc. E os Padres Antonino, Martinho e João Leite; Grandes tempos.