sábado, 6 de agosto de 2016

CINQUENTA ANOS DE SACERDÓCIO



Passaram cinquenta anos sobre a ordenação sacerdotal do Fr. Pedro da Cruz Fernandes. Desperto para esta realidade, dei comigo a desfiar um rosário de recordações, a recuar a um qualquer dia do mês de Outubro de 1955 e a desafiar a memória que, felizmente, ainda me assiste.
Tão menino que menino eu era (ao jeito de Pessoa), menino de minha mãe 11 anos apenas, uma camioneta ruidosa e poeirenta despeja-me junto à estação de caminho de ferro de Vila Franca das Naves (Trancoso). Eu ainda não tinha forças para carregar as duas malas do enxoval mas, como ia confiado à custódia de meu primo Álvaro Milagre que ia para o 4º ano, era ele o meu suporte. Era cedo, sete da manhã, os ferroviários de serviço ainda carregavam o peso do sono e da impertinência e venderam os bilhetes para Caxarias. Um silvo distante, talvez na curva da Velosa, anunciava a proximidade do trem. O cais era uma miscelânea de malas, sacos de trapos e batatas, caixotes, cestos, adeus até pró ano, lágrimas, suspiros e os ciganos que iam até à feira de Celorico. Suada e negra, a bufar por todas as juntas, vinha a vaporosa locomotiva, arrastando consigo meia de dúzia de carruagens classificadas de 1ª, 2ª e 3ª classe. Um seminarista era um cidadão de terceira, ou não aspirasse, a partir daquele momento, às juras de votos de pobreza. Das janelas de uma das carruagens, vozes gritavam: -Para aqui!...
José Lourenço, Zé da Cruz (fr. Pedro), Amadeu Valério, António Lines, Manuel Melro, Orlindo Igreja, Manuel Salvado, Manuel Braz, pelo menos a estes, juntei-me eu, meu primo Milagre e Francisco Saraiva. Começaram a fazer-se as apresentações, partilhámos o farnel, as venturas, desventuras e histórias do seminário. O Zé da Cruz já liderava de certo modo, embora não fosse o mais velho do grupo. A sua amizade e sua disponibilidade para comigo, eu nunca esqueci. Ensinou-me a fazer a cama no dormitório velho e até me ensinou a cortar cabelo. De seu irmão, Fr. João Domingos, guardo uma saudade imensa, que mitigo de vez quando lendo uma carta que religiosamente conservo e que ele me escreveu quando lhe comuniquei que não me apresentaria no Convento de Fátima para tomar hábito, no dia 4 de Agosto de 1960.
         Idealizei a minha presença nas comemorações do jubileu de ouro na sua aldeia natal – Torre (Sabugal). Porém, nem sempre o que calendarizamos acontece e eu não poderei estar presente. Ele sabe, contudo, que eu estarei em espírito comungando da acção de graças que ali terá lugar.
         Obrigado fr. Pedro por esta amizade (já tão velha!) e que Deus te deixe permanecer muito tempo entre nós.
         Abraço Amigo


         Nelson

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