Com tantos indivíduos a deitarem a mão à bolsa do Estado, até indignar-nos já nos cansa. Imagino o Estado português como uma bucólica vaquinha que, pastando em verdejante prado, se deixa mamar por uns poucos enquanto a maioria fica a ver submarinos ao longe, muito ao longe. Temo que esta aparência de mansa vaca branca e preta seja o disfarce de um lobo. Há tantos que, sem máscara, nos tiram a bolsa e a vida. Fala-se, hoje, de novo assalto às pensões de reforma, já tão mordidas e ratadas. Como podem viver as pessoas com estes infindáveis cortes? Aqueles que toda a vida descontaram, contando com a segurança dos descontos, não estão a ser roubados? Ai, estes velhos, duráveis e persistentes, que nunca mais libertam os encargos da segurança social! Olhemos com espanto para o mundo do trabalho. As novas tecnologias – património da humanidade - vieram libertar muito o esforço humano. Seria razoável que todos beneficiassem do progresso tecnológico. Não é assim. Milhares são atirados para o desemprego, aumenta o horário de trabalho, diminuem os salários e as prestações sociais. Progresso tecnológico não significa, nesta civilização, desenvolvimento humano. Vai diminuindo o bem estar das populações, degradam-se as condições de vida. Nesta vida onde mandam interesses obscuros reina a insegurança, a incerteza. É inquietante o estado a que chegou o Estado. Mandam-nos emigrar, como se o país não fosse já lugar para viver. Sente-se a desorientação nos que mandam e nos que são mandados. Resta-nos uma certeza neste horizonte cerrado que pode anunciar uma saída: somos um país grande produtor de vinho. Bebamos para esquecer e para alegrar o coração. Levem-nos tudo, mas não nos tirem o vinho!... Ouçamos a douta sentença que diz que uma pinga a mais pode fazer esquecer as agruras da vida e até aumentar a produtividade no trabalho. Patrões de todo o mundo, enchei as vossas empresas de garrafinhas do branco e do tinto. Operários, soldados e marinheiros, muni-vos de frasquinhos de cachaça. Acabou a tristeza nacional, acabou o país pessimista e cabisbaixo. Haja alegria no meio desta embrulhada que nos aconteceu. Então, bebamos! À nossa!
Eduardo Bento
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3 comentários:
Que se levantem as vozes dos homens bons pois... a "bucólica vaquinha" não chega para os filhos da política!
Temo que para a juventude, que bebe coca-cola, nem os tintois e a bela cachaça resolvam...
Obrigado Eduardo Bento por esta "farpa" nas angústias do quotidiano deste nobre Povo.
Bebamos antes de mais à saúde da família e dos amigos! Agora e sempre!
Antero
Caro Eduardo Bento,
Bebamos, à nossa e à de todos os nossos amigos.... claro que moderadmente...não indo além de um copo de cada vez...., louvando-nos no recente Acórdão do Tribunal da Relação do Porto, no qual o Ilustre Desembargador-Relator,diz expressamente « note-se, com álcool, o trabalhador pode esquecer as agruras da vida e empenhar-se muito mais a lançar frigoríficos sobre camiões, e por isso, na alegria da imensa diversidade da vida, o público servido até poder achar que aquele trabalhador alegre é muito produtivo e um excelente e rápido removedor de electrodomésticos»...
Aquele abraço
Zé Celestino
No ambiente tristonho e miserável em que vive Portugal( no Porto os contentores do lixo já são visitados por pessoas que nunca na vida pensariam tal), também nascem pérolas literárias como esta do Eduardo Bento, qual Ramalho Ortigão dos tempos hodiernos. Bem hajas Eduardo.
Um abraço
Neves de Carvalho
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