1. No dia 14 de Abril de 2012 todos os caminhos iam dar a Torres Novas. Situada na zona nobre da cidade, a bela e austera Praça 5 de Outubro encheu-se de forasteiros vindos de todas as partes do país e mesmo do estrangeiro. Aqui um companheiro de há muito, então pá! dá cá um abraço! Ali outro que estende as mãos, acolá outros – salve omnes pariter! – tantos rostos e nomes que me permito não referir - e perdoem-me -, mas a reportagem fotográfica falará por si. Por instantes, Felix Turris, a antiquíssima villa romana banhada pelo Monda e protegida pela Serra de Aire, parecia a mais cosmopolita das cidades portuguesas. Caía uma chuva agreste e miudinha que desaparecia sob a calçada sinuosa e íngreme. De repente, lembrei-me de Cesário Verde, Cristalizações: ‘homens acocorados de forma rude e grotesca, calceteiros de dedos magoados, o vento norte expulsando as últimas gotas de chuva enquanto do chão lamacento nasciam calçadas portuguesas.’ Junto ao Hotel dos Cavaleiros, ponto de encontro – pois claro! – aguardavam-nos os nossos já conhecidos anfitriões: Eduardo Bento e Vitória. O programa de festas, preparado e pensado meticulosamente pelos amigos torrejanos de EB, foi escrupulosa e serenamente cumprido. A sala do hotel estava repleta, as mesas irrepreensíveis destinadas aos convidados. Seguiu-se o almoço. De vez em quando vibrava no ar a voz potente de um arauto: ‘Silêncio Atenienses!’ Por volta das 15h00, o espaço foi pouco para tantos torrejanos que chegavam: homens, mulheres e crianças. Admirável! “Paparazzi” atentos, munidos de lentes e angulares de longo alcance, disparavam relâmpagos flamejantes, registando momentos com história, para a história. Havia qualquer coisa de irreal, acreditem ou não! Bem almoçados e bem regados pelos generosos dons de Baco, procedeu-se ao ritual do lançamento de O olhar que procura um barco em vários actos: leitura encenada a partir do texto do prefácio por um grupo de amigos de EB; apresentação do livro. Sobre o livro nada mais direi do que aquilo que já disse na altura: um espanto! Seguiu-se a magnífica leitura de excertos do texto pelo mesmo grupo, com destaque para o ‘coro’ feminino. A encerrar o lançamento, falou o fr. Bento Domingues, cuja presença a todos supreendeu, como surpreendente foram as suas palavras centradas sobre a noção de estética e de beleza, se não me engano! Finalmente o autor, Eduardo Bento, mergulhou o auditório num perfume de dedicatórias, agradecimentos e saudações amigas, que bastam, no meu entendimento, para fazer alguém feliz, pois o livro, sem retórica nem fins comerciais, «foi para oferecer aos amigos». Mas ainda faltava o momento lírico, a habitual e exímia schola cantorum cujo tom saudoso e nostálgico de Samaritana envolveu toda a assistência. Já assisti a muitos eventos deste género, mas nenhum me pareceu tão sincero, simples e rico em companheirismo e humanidade como este. Em suma, o lançamento de O olhar que procura um barco foi um hino à cultura e à amizade, um acontecimento memóravel! Mas, atenção, a festa ainda ia meio….
2. In taberna quando sumus…
Terminada a primeira parte do evento, marcada, como brilhantemente descrito em 1. pelo Abel Pena, pela estética e beleza das ideias e pela eloquência dos vários intervenientes, seguiu-se a segunda parte : o convívio na «Adega VB». V=Vitória e B=Bento. Estou certo que aí se repetiu o milagre da multiplicação do pão, do queijo e do vinho. A grande mesa mostrou-se pequena para os variadíssimos «petiscos» que surgiram de todos os lados. Champagne francês, vinhos verdes, brancos, tintos e até de outras cores, consoante a incidência dos focos de luz da Adega e a cor da retina dos olhos de cada um. Foram momentos de inesquecível fraterno convívio, cujos temas de conversa se prenderam, como de sempre, como nosso passado, presente e futuro. Como já vai sendo tradição, a animação musical esteve a cargo do Neves de Carvalho. À viola ou ao acordeão acompanhou os já habituées «rouxinóis do mondego» Guerra Henriques e Zé Celestino e outras «aves canoras» que, a solo ou em grupo, entoaram canções de seu gosto, desde a Santa Catarina até à Senhora do Almurtão. Foi ponto alto o momento em que, em uníssono, cantamos o fado da despedida, «Coimbra tem mais encanto». In casu, bem poderia ter sido, «Tores Novas tem mais encanto». A festa terminou já passava da meia-noite. Com o olhar na vastidão do oceano, não deixaremos de procurar o barco que nos conduzirá ao lugar que cada um alveja.
AP/JC
4 comentários:
Obrigados, Abel Pena e José Celestino que nos permitís viver ou reviver momentos que são raros para não dizer únicos. Obrigado à Vitória e ao Eduardo Bento que nos ofereceram uma tarde e parte da noito fora de norma. Não houve uma nota desafinada! A harmonização foi perfeita. Um abraço, Fernando.
Com grande pena minha, não pude estar na festa, mas justifiquei a minha falta ao Eduardo! Pedi ao meu conterrâneo e amigo Abel Pena, com quem estive dias antes, que fosse portador do meu abraço para o anfitrião. Sei que o fez. Agora, com a extraordinária reportagem que nos chega, posso dizer como Xico Buarque: Foi bonita a Festa, pá!...
Um abraço, Velho AQmigo Eduardo!
Nelson
Um abraço especial para o Eduardo Bento, e parabéns por mais esta realização literária, pelo sucesso do lançamento, e pela bela festa e jornada de amizade.
Salientam-se os músicos e "rouxinois" do costume, e não só. Aquela atmosfera exemplar... a farturinha da adega da civilização.
Bem gostaria de ter estado presente!
Louvo o relato e as fotos aqui colocadas com a sabedoria e o coração.
Um abraço para todos.
Antero
Agradeço as crónicas, completas e sabiamente descritivas do Abel e do Celestino.
Agradeço ao Fernando, ao Nelson e ao Antero as amáveis palavras de comentadores.
Um abraço
EBento
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