tudo corra pelo melhor e que se inspirem para rechear o blogue dos textos de
qualidade de que são capazes.
Dedico-vos a reportagem de passeio que aqui junto para publicação, caso a
comissão de controle dos bons costumes o permita...
Abraços a todos
A. Alexandrino
Santuário de Nª Sª d’Aires - “Painéis votivos”
Percorro a planície entre montados de sobro e veredas de estevas, num mar de estio e solidão, e no fundo da memória sonora, histórias de ganhões, o cante sempre entoado e a protecção das belas letras, testemunho da sabedoria popular. Estou extravagante! Esta vida estirada, a calma inspirada, e a pacatez serena, arrastam-nos para longe do ruído dos jornais e das televisões e insere-nos num quase retiro espiritual, imbuído de felicidade.
Surge-me pela frente espelhando alvura ofuscante no pára-brisas, a vila de Viana do Alentejo. Há anos que não a vejo, mas agora vou ali já venho.
Puxado por mão invisível, sinto uma atracção irresistível para passar além do casario e me refugiar num santuário, que ali está à mão, a duas milha de distância dedicado a Nossa Senhora d’Aires.
É um lugar atraente, calmo dentro da calma. Plantada num lugar ermo, a igreja mostra-se altiva e muito bem cuidada, quase réplica da Basílica da Estrela
A tendência própria dos alentejanos de exprimirem no cante tudo o que lhes vai na alma, expressou-se em relação a este santuário, desta forma:
“Ó Virgem Sª d`Aires
Estás metida num deserto
Em chegando a mocidade
Me parece um céu aberto
Me parece um céu aberto
Com toda a nossa gentinha
Fui solteiro vim casado
Foi milagre da Santinha.”
Jóia do barroco português conserva uma interessantíssima colecção de ex-votos, entre os quais têm particular interesse os “painéis votivos” representados em pintura, um documento incrível sobre o Alentejo do século XIX. Estes “painéis” representavam graficamente o agradecimento pela graça concedida, e geralmente representavam o motivo pelo qual, ela tinha sido pedida. “Nos ex-votos expostos, todos do Século XIX, a grande maioria referem-se a curas milagrosas. No início do Século XX, a vulgarização da fotografia liquida por completo esta forma de arte popular religiosa”.
“Parece coincidir o seu triunfo com o aparato da devoção barroca que privilegia uma liturgia externa, luminosa, e ainda que muitas vezes os quadrinhos de ingénuo fabrico não reflictam o sentir do clero e o pensamento mais ortodoxo acerca desta maneira de proceder, os resultados práticos convocados por aquela quanto à capacidade de arrastamento de crentes e coerente proveito apagavam qualquer menor gesto de discordância de tal uso.” (Alberto Correia - Tábuas pintadas com "Milagres". Uma crónica da
vida dos homens.)
Notam-se estilos marcantes comuns a grupos de ex-votos, o que leva a deduzir pela existência de alguns pintores a quem os peregrinos encomendariam os trabalhos. Os ex-votos, como pinturas realizadas por artistas auto-didactas revelam um estilo de Arte Naïf. Repesquei algures na net esta pequena amostra dos quadros lá expostos, que não sendo a melhor escolha, mais me entusiasma a recomendar-vos a visita.
A. Alexandrino
3 comentários:
Lindos os ex-votos, o Santuário não conheço, mas já anotei. Boa ideia Alexandrino. Um dia destes darei conta de um belíssimo santuário com uma maravilhosa colecção de ex-votos, alguns dos quais o Dr. Alberto Correia, de quando em vez, requisita para exposições. Falo da Srª do Castelo de Mangualde
O meu "nihil obstat, antes pelo contrário" enviado em particular, chegou certamente depois da publicação. Aqui deixo os votos de admiração pelo facto, demonstrado pelo Alexandrino, de que os confrades estão sempre num lugar cimeiro das suas preocupações.
Jaime
Retribuo o votos de boas férias e boas viagens. Estou à espera das minhas há séculos...
Por outro lado, nunca percebi muito bem os termos adoptados " painéis "votivos" ou "ex-votos".
Existem também na Beira Alta algumas capelas com idênticas manifestações, nomeadamente na Senhora da Cabeça e no Santuário de Santa Eufêmea, muito interessantes. Curiosa é a leitura dos textos e a compemplação das graças recebidas e agradecidas... A fé é que nos salva. Mas a arte também conta.
Um abraço para todos.
Antero Monteiro
P.S. - Nª Sª d'Aires, trazei-me bem depressa o Agosto para mudar de ares e gozar da paz de espírito de montes e vales que o amigo Alexandrino invoca por planícies e montados e ainda por cima sem jornais nem televisões...
Será que consigo sobreviver sem os arautos do progresso, os apelos e as minudências verrinosas dos nos digníssimos políticos?
E que mal fiz eu para as antenas dos telemóveis já abrangerem a minha aldeia natal, que era quase no fim do mundo e tinha montanhas de paz de espírito?
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