Falar de política, como de religião, é sempre difícil. Por um lado chama as pessoas à discussão. Por outro motiva a paixão e o envolvimento de diferentes convicções e formas de ver. Sobressaltam maneiras antagónicas de encarar a existência e o universo, até em minudências quanto mais em questões de fundo.
Para que conste, devo dizer que nunca me inscrevi em partido nenhum, apesar das solicitações dos tempos quentes do 25 de Abril. A noção que tinha, e tenho, é a de que entrava num partido por aderir a ideias e formas de estar que se identificavam mais com as minhas e acabaria inevitavelmente a ter de defender as ideias dos outros, da liderança, corporativizado, em fila compulsiva ou simplesmente ostracizado. Não me ouvirão no entanto dizer mal dos partidos, pois julgo que são necessários e não tenho melhor alternativa a propor.
Como todos nós, tenho interesses a declarar: com quatro ou cinco anos eu era um apoiante incondicional de Salazar. Ficou-me na retina a festa da minha aldeia e no ouvido aquela cantata “ Deus dê saúde a Salazar que uma escola nos quis dar…”. Por volta dos treze ou catorze (é pelo menos a memória que tenho da coisa) fiquei perplexo com o facto de os votos da oposição terem chegado depois das eleições ou não terem chegado a tempo, ou mesmo nunca terem chegado. Comecei a perceber muito devagarinho… ou, definitivamente, a não perceber certas coisas.
Quando em 1973 entrei na Faculdade fiquei admirado como dentro das escolas públicas se podia dizer tão mal do governo, dos ministros, afixar cartazes, em Direito como no Técnico, aquelas que frequentava mais … Com o 25 de Abril, e tudo o que veio ao conhecimento do simples cidadão, foi a submersão de informação e de conhecimento político. Instalei-me claramente na opção democrática. Cheguei a simpatizar com o MRPP, por ser oposição á unicidade que o PCP queria impor naquela escola e nos Sindicatos, etc…
Aprendi a conviver com gregos e troianos e optar nas eleições, sem falhar uma.
Estou aqui estou outra vez na fila.
Mas há coisas que são contra natura. Por agora vou falar de pouca coisa porque o tema seria maçudo e se tiver contraditório e interesse lá iremos a outras.
Não entendo que a Constituição obrigue a uma certa idade mínima para ser votado para o cargo de Presidente da República e não imponha um limite máximo.
Não compreendo, tanto mais que:
Na função pública se empurram as pessoas pela porta fora, normalmente aos setenta anos…
A partir dos sessenta e cinco não se pode ser motorista de certos veículos…
A partir de certa idade a carta de condução passa a estar sujeita a exames médicos que avaliam com frequência as capacidades de condução…
Como a partir dos setenta qualquer entidade patronal pode dispensar aqueles que foram os seus melhores colaboradores.
Alguns, como os árbitros, retiram-se aos quarenta e cinco ( salvo erro)…
Os futebolistas…
Os atletas de alta competição…
Os exemplos seguir-se-iam até ao infinito.
É óbvio que a experiência da vida e a própria ciência nos confirmam que certas capacidades, nomeadamente as físicas e mentais, são cada vez mais condicionadas com a idade.
Ora a eleição de um Presidente da República ou um Primeiro Ministro, constituem uma eleição para atletas de altíssima competição.
Como podemos nós votar um Presidente com mais de oitenta anos?
Como podemos nós votar para Primeiro Ministro pessoas com avançada idade que não tinham irremediavelmente acesso a qualquer emprego na função pública?
Como podemos nós submeter a escrutínio e, por absurdo, eleger tais pessoas?
Como podemos, por absurdo, mas frequente realidade, eleger para os mais altos cargos uma fileira de idosos e muitos reformados, alguns com várias reformas…
Ora, se capazes e válidos, trabalhando, talvez devessem pelo menos suspender a reforma. Se tiverem mais de setenta anos, não deviam sequer ser inscritos ou escrutinados.
É contra senso e contra natura.
Peço aos mais idosos que não entendam isto como uma falta de respeito ou vistas curtas. Acho que devemos continuar a aproveitar o seu valor, os seus ensinamentos, o seu exemplo, a sua experiência, etc. Mas há coisas em que os limites que existem para uns deveriam ser para todos, especialmente para cargos políticos. Dêem-lhes público reconhecimento, cargos honorários, funções de aconselhamento. Os muito idosos avós, mesmo com cem anos, continuam a sentar-se à cabeceira da mesa no lugar de honra que merecem. Mas se alguém tem de resolver problemas já são os filhos ou os netos que têm o dever de ir e resolver.
Na actividade privada compreende-se e temos exemplos de grande valia. Mas a regra na coisa pública não deve ser essa.
Não gostaria de ver, como tenho visto, este Estado governado por reformados… do Estado!
Antero Monteiro
5 comentários:
Constava de um velho alfarrábio que dava pelo nome de "Regulamento Geral do Serviço do Exérecito", -que o primeiro sargento da companhia era obrigado a saber ler e escrever, porque podia o comandante ser de origem nobre, e não o saber fazer. Por isso, amigo Antero, importt é que o povo saiba ler e tenha qualidades, pois para político qualquer um serve. É o que se tem visto.
O Rafael e o Zé é que os topavam bem....
Um abraço a todos e BOAS FÉRIAS, cá dentro ou lá fora...
NOTA: O ENCONTRO GERAL, em Fátima, será dia 10 de Outubro. Guardem já esse sábado...
Entretanto, a Comissão divulgará o PROGRAMA...
Zé Celestino
Nesta altura do campeonato não me venham cercear a possibilidade de me candidatar a presidente da Junta de Freguesia aqui de Tonda. De há uns anos a esta parte que venho investindo fortemente numa campanha personalizada, organizada a longo prazo, e agora que tenho do meu lado cerca de dois terços dos 48 votantes da freguesia, virem-me dizer que já sou velho!! Haja respeito pelos repolhos, pelos tomates, pelas cebolas, pelos alhos e pelas castanhas que distribui com vista a uma posterior compensação em votos. O que conta não é a idade, mas as capacidades, os talentos, caldeados pela argúcia, a sageza, a experiência e a prudência dos candidatos. O que é que o Chico Ventosa, o filho do taberneiro tem a mais do que eu, apesar de ser doutor em leis? Não, isso não muda assim às boas, nem que haja garrochada de criar bicho. E olhem que no jogo do pau eu peço meças a qualquer um.
Ezequiel Vintém
Más notícias Zé Celestino!... Por que razão não há-de o encontro anual ser a 17, por exemplo?... Como em tempos disse o Fr. Geraldes é tempo de peregrinação, e é vésoera de eleições, digo eu. Não vem nada a calhar e pode haver muitas desistências. Mas,a comissão é soberana.
Ora esta! Reformado de 70 anos pelo Estado vale menos que um homólogo da actividade privada?
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