sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

AS AMENDOEIRAS E O REGICÍDIO

Desloquei-me ao Algarve nesta quadra de Carnaval. O tempo fantástico permitia realçar a maravilha das amendoeiras em flor. Mas já vão rareando na paisagem porque a amêndoa deixou de ser um produto rentável para o produtor. Estão portanto abandonadas e vão morrendo naturalmente. A beleza natural não dá lucros, ou não lucram com ela os que a cuidam. Os algarvios (e sei que pelo menos um me lê) deveriam reflectir no facto de as amendoeiras terem ali sido plantadas para embelezar a região e não pelo lucro da amêndoa.
A propósito do regicídio ouvi muita discussão sobre as verdadeiras razões que levaram o rei D. Carlos a atravessar o Terreiro do Paço num landau aberto, quando poderia deslocar-se de automóvel ou no mínimo ao abrigo da capota do landau. Todos sabiam da agitação política que se vivia na altura. Não é por acaso que príncipe Luís Filipe traz consigo um revólver carregado. Não ouvi ninguém referir aquela que, para mim, terá sido a verdadeira razão desse lapso de segurança.
O Terreiro do Paço (hoje deveria chamar-se “Alcatroado do Paço”) estava, na época, todo ele debruado a amendoeiras. A 1 de Fevereiro, tal como agora, as amendoeiras estariam no auge da floração. Na impossibilidade de se deslocar ao Algarve, o rei, amante da natureza, não quis perder o deslumbrante espectáculo, mesmo com o risco da própria vida.
A princesa nórdica, trazida pelo príncipe algarvio, que definhava com saudades da neve da sua terra, foi salva pelas amendoeiras que o príncipe mandara plantar, e que com a alvura das suas flores, precisamente na época da neve, aliviaram a saudade do seu torrão natal.
Desta feita as mesmas amendoeiras foram a causa remota do regicídio português. ( Isto poderia ser dito de maneira mais poética. Porém, não sou pago para escrever, muito menos para escrever bem.)
Encurtando distâncias, (que ainda tenho que mandar um email ao Paulo Bento), direi que o belo dá vida, dá alegria, dá bem estar, mas também pode fazer perder a cabeça a algumas pessoas.

Ezequiel Vintém

3 comentários:

Nelson disse...

Sejas bem aparecido, caro Vintém!... Desde o advento que andavas recolhido. Tem este comentário a finalidade única de me justificar por ter publicado o teu texto a verde. É que, como disseste que ias escrever ao Paulo Bento...

Anónimo disse...

Cá está de novo o nosso Ezequiel Vintén ! Mais uma razão para vir mais amiúde ao blog.
Conhecía a linda história da Princesa nórdica, mas não a do regicídio... aprender é até morrer... Gostei imenso de te ler de novo, um abraço, Fernando.

Anónimo disse...

Amigos meus
Assim quis o destino, que voltasse a este recanto de virtude. Sopesando os prós e contras, ou antes, contando os que estão comigo e contra mim, achei que sou suficientemente virtuoso para estar aqui, até ordens em contrário...
Ao Nelson agradeço a verdura, fruto da sua perspicácia, já que prós lados de Alvalade só há verdura e nula perspicácia. Os Bentos nunca foram grandes treinadores. Há um vetusto clube em Roma, que já vai no décimo sexto e ainda não é desta que ganha o campeonato.
Ao Fernando direi que nem ele nem ninguém sabia da "causa mortis remota", aqui atribuida às amendoeiras, dado tratar-se duma descoberta original cá do "je". A história é dinâmica, meu caro, e com o auxílio de provas laboratoriais, viremos certamente a descobrir muitos mais segredos na Quinta da Rainha...
Vosso, Ezequiel Vintém