quinta-feira, 1 de novembro de 2007

RENOVAR A IGREJA?




Disputatio

Quaestio
«- Gostava de viver uma igreja sem celibato dos seus ministros..
- Gostava de viver uma igreja com as mulheres também no altar a celebrar como presbíteras.
- Gostava de viver uma igreja em que o sexo não é crime ou pecado.
- Gostava de viver uma igreja em que a secularização não é inimiga.
- Gostava de viver uma igreja em que todos são iguais perante Deus, independentemente de género, raça ou orientação sexual.
- Gostava de viver uma igreja que pega no megafone para protestar contra salários de miséria ou a pobreza das arcadas e que não abra a boca só porque um crucifixo caiu da parede ou um capelão deixa de receber a mesada do estado.
- Gostava de viver uma igreja que rejeita o abuso sexual de menores, mas não tem medo de entregar os que prevaricam ou pecam, sem confundir com a homossexualidade, que é de outro reino.
- Gostava de viver uma igreja que é deste mundo, sem medo de se parecer demasiado com este mundo.
- Gostava de viver uma igreja que é de homens e mulheres.
- Gostava de viver uma igreja que não expulsa os que rezam de modo diferente ou que afasta quem não caminha na procissão das velas.
- Gostava de viver uma igreja que fosse Igreja»

Assina um crente -pelos vistos - devastado de angústias que dá pelo nome, de registo e baptismo (suponho), de Miguel Marujo.
Opponens
"Se quer uma igreja igual ao mundo, para que precisa da igreja? Esse seu balido de ovelha descontente, reivindicadora, significa exactamente o quê? - que o pastor devia largar o cajado e por-se de quatro, a trotar e a tasquinhar tenros e verdejantes prados ao lado do rebanho? Que em vez, por conseguinte, de lhe ministrar firme bordoada e pedrada certeira, de modo a guiá-lo num qualquer caminho, passasse a segui-lo, em babélica pandilha, para onde, à carneirada lampeira, lhe desse na real bolha?"
“Oiça uma coisa: Toda a teoria sagrada é retrógrada. Não pode existir nenhuma religião que o não seja. Precisamente pelo simples facto de viver de dogmas e continuação de regras fundadoras. Uma Igreja Católica sem tradição não existe. Seria mais uma seita evangélica.”


Respondens
“O que sei da Igreja não é muito mas é o suficiente para ter perfeita noção que se as mulheres não estão autorizadas a celebrar missa, muito menos estão capacitadas para executar exorcismos.
«A mulher receba a instrução em silêncio, com toda a submissão. Não permito à mulher que ensine, nem que exerça domínio sobre o homem, mas que se mantenha em silêncio.»- S.Paulo, "1ª Carta a Timóteo".


Opponens

“Quanto às citações bíblicas, isso é comum aos falsos profetas e aos heréticos. Olha antes para o Catecismo e para os ensinamentos da Igreja Católica Ponham os olhinhos nos bons dos ortodoxos e vejam se aquilo muda. Não muda porque não são bimbos. E sabem perfeitamente separar a vida laica da vida da Igreja. Estes palermas católicos progressistas é que andam às avessas. Já nem vão buscar justificações bíblicas para alterações, como fez o Lutero, basta-lhes sacar de uma moda que até pode ser ditada por uma Câncio dos jornais ou por qualquer outros palhaços da moda. Se a Igreja andasse a reboque de todos os idiotas que nascem estava bem arranjada.
Mas este manifesto funciona em beleza em qualquer comício esquerdalho. Até tem directivas sindicais. Geralmente são os ateus que perversamente mais gostam destas palhaçadas.

Respondens
“Essa de olhar para o catecismo e não olhar para o mundo há-de servir muito. De facto existem casos extremos de uso da religião como variante de política, mas também existe um afrouxamento geral que corresponde ao relativismo com que se encara tudo.
Costumo dizer que se tenho a minha crença deve-se ao facto de sempre ter fugido a sete pés de toda e qualquer organização religiosa. O que nada tem a ver com fugir de padres ou bispos inteligentes. O problema são os crentinhos, os medidores, os de estigma em punho, os danados.


Opponens

Estás errado. Ninguém precisa de medir a fé de outrem para fazer uma simples constatação social- o "catolicismo progressista" deu nisto- nesta mixórdia a imitar evangélicos. E é, de facto, prova de uma decadência da religião católica."
Está visto que essa treta de direitos para as mulheres oficiarem é mesmo anormalidade de feministas na reforma. Dantes queimavam soutiens na praça pública, agora querem dizer missa...
A igreja do Marujo é uma espécie de igreja cátara. A pureza definidora, ao contrário daqueles puristas de reduto, é alargada ao todo prazeirento do tempo. A mistura de géneros, não é um problema da Igreja, porque a Igreja é o conjunto de crentes, logo de todos os géneros e feitios. A distinção faz-se neste tempo como se fez noutros, por causa da tradição que é lenta. A esperança é violenta, como dizia Apollinaire, um herege.”

Respondens
“Nos tempos dos Borgia, o papa, vindo de Valência, tinha filhos; contemporizava com o incesto de uma filha e um filho e estava preocupado principalmente com o poder temporal. Na Inquisição, os dominicanos eram intolerante com todo e qualquer desvio à linha recta definida no Concílio. A unidade da Igreja impunha-se como um valor per se. A seguir, nas luzes, os bispos estavam nos Paços e nos Paços reais.Com o advento dos jacobinos revolucionários que decapitaram os últimos rois et reines ( e talvez também veados, o que é um atout em seu favor), começou a decadência do "clero", arrastada pela da nobreza. O povo, esse, ainda não teve o seu tempo. Lá chegará, se chegar. A bem ver, talvez seja preferível que nem chegue. Já basta o que basta.”


Opponens

Respeitável era a igreja católica porque teve um papel preponderante na formação de Portugal ( e identificava-se com Portugal). Mas agora cada vez menos se distingue dos inimigos de Portugal: querem é crentes, nem que sejam cristãos-novos, novos "portugueses", ou porcos e depravados. As instituições da igreja encontram-se infestadas.
A cedência é cada vez maior! Chamam-lhe "evolução" e adaptação à modenidade. Parece que afinal o diabo acaba sempre por vencer,..., pior até lhe tomam o lugar.


Determinatio
Magister dixit: Empate técnico. Vamos para penaltis.

Composição e arranjo de textos repescados nos blogs “Terra da alegria”e“Dragoscópio”.Enquadramento na forma escolástica de discussão.
A. Alexandrino

5 comentários:

Anónimo disse...

Renovar a Igreja.
Como qualquer instituição ou movimento, composta por homens, a Igreja só pode ser renovada do interior e por aqueles que a amam e desejam que ela seja amada, compreendida e respeitada mesmo por aqueles que nela não acreditam!
Não pretendo responder ponto por ponto a todas as reflexões aquí publicadas (quem sou eu) mas vou tentar dar a minha opinião de cristão sobre cada uma das ‘quaestio’.
Como permissia, afirmo que sou tão cristão e membro da igreja católica como o Papa ou qualquer bispo: é o batismo que faz de nós, membros da igreja e todos ao mesmo nível. Depois por ordenação ( sacramento da ordem) , por eleição ou nomeação, alguns assumem funções ou ministérios. Aqui começou muito cedo a confusão: ser ministro é sinónimo de ter poder e autoridade, ser senhor e mandador. É tudo ao contrário! Ser ministro é ser servidor como a palavra indica tanto na origem grega (diaconos) como latina (minister). Ainda há muito caminho para andar... A todo aquele que recebe o batismo é dito: tu és sacerdote, profeta e rei. Rezas e podes presidir a oração de toda a assembleia – Ecclésia- podes e deves proclamar a Boa Nova e segundo o exemplo do rei David estás ao serviço de todo o povo! É isto ser cristão e não precisamos da autorização de padres, bispos ou papa para exprimirmos a nossa fé, iluminados e esclarecidos pelos ensinamentos de Cristo. Também eu gostava que cada batizado contribuisse para fazer da nossa igreja um lugar de amor, respeito e compreensão. Lugar de escuta, de diálogo, de respeito das diferenças, de perdão. Que nunca se condene o Homem, mas só o mal!...
Quaestio:
1- Também eu gostaria que na nossa igreja os ministros fossem escolhidos entre pais de familia ou solteiros de uma certa idade, que fizeram a escolha do celibato, mas nunca por toda uma vida, mas por três ou cinco anos renováveis... Monjes e frades é diferente, vivem em comunidade, em família...
2- Gostaria que na nossa igreja as mulheres tivessem acèsso aos mesmos ministérios que os homens e que a escolha se fizesse segundo os carismas de cada um e não segundo o sexo.
Digo mesmo que a Igreja, ‘magistra’ deve ser condenada por misoginía. Qualquer outra instituição que assim usasse de discriminação, já teria sido condenada há muito tempo. Hoje em França os partidos politicos pagam multas se as listas eleitorais que apresentam, não comportam o mesmo número de mulheres e de homens! Nós permitimos às mulheres de enfeitar os altares e barrer a igreja...
3- Gostaria que na nossa igreja o acto sexual fosse valorizado e apresentado como o sacramento do amor. Peço unicamente que se respeite o direito canónico no qual está escrito que os noivos só recebem verdadeiramente o sacramento de casamento, depois de se terem amado carnalmente. É a carne, o acto sexual, a verdadeira matéria do sacramento. Se não houver consumação não há sacramento.
4- Cristo não quis tirar-nos do mundo, do século, mas livrar-nos do mal. No mundo bem sabemos que nem tudo é bom. Devemos ser fermento nesta massa que é o mundo. Só podemos transformar a massa, faze-la levantar se estivermos bem misturados com ela. O Evangelho de Zaqeu, neste domingo diz-nos que “Deus não está fora da vida, do quotidiano,das relações com os outros, dos nossos trabalhos, canseiras e descansos. Não, é precisamente aí, nas coisas mais insignificantes e banais, nas alegrias e sofrimentos que podemos descobrir Jesus que nos diz: preciso de ficar em tua casa”.
5- Deus não faz accepção de pessoas. Gostaria que a nossa igreja, formada por pessoas tão diversas, fosse não só tolerante, mas respeitadora de todos os géneros, raças ou orientações sexuais (tenho um problema com esta útima afirmação, mas sigo uma terapia...).
6- Gostaria que a nossa igreja, a começar pelo papa, bispos, padres, diáconos, religiosos e todos os cristãos, abandonasse toda a forma de poder, para se colocar definitivamente do lado dos pobres e de todas as pobrezas!
7- Gostaria que a nossa igreja protegesse as crianças e os mais fracos de qualquer abuso sexual ou outra dominação. Que a nossa igreja continue a condenar claramente a pedofilía e entregue à justiça todo pedófilo, em vez de mudar os padres de paróquia e os professores de colégio. Que se acabe com a confusão entre homasexuais e pedófilos, não tem nada a ver o cú com as calças...
8- A Igreja é constituida por mulheres e homens bem enraizados neste mundo mas que se batem por um mundo melhor,’hic et nunc’.
9- Sim gostaria de viver numa igreja, um povo formado de mulheres, homens, crianças que se sintam investidos da missão de transmitir a toda a humanidade ( com ternura) valores de paz, amor, solidariedade, tolerância, respeito das diferensas em harmonia com todo o cosmos!
10- Sim gostaria que a nossa igreja respeitasse todas as diferenças, mesmo aqueles que vão a Fátima a pé e participam nas procissões!
11- Penso fazer parte de uma igreja, um povo que caminha numa determinada direcção, nem sempre ao mesmo ritmo, mas espero, todos guiados pela Boa Nova do Evangelho!

Jaime disse...

Dois agradecimentos:
Ao Alexandrino pela teimosia de manter o blogue vivo e pelo trabalho de pesquisa e montagem de opiniões.
Ao Fernando pelas profundas e abrangentes considerações que faz, fruto, creio, de muito pensar sobre assuntos de que fala e não da reacção reflexa (ainda que fosse pronto no responder). Também pela tolerância ainda que esta tenha limites, estes devida e frontalmente assinalados.
Temos Fernando.
Jaime

Anónimo disse...

Eu, apesar de nunca ter enveredado pela Teologia adentro, não deixo de ter opinião, ainda que incipiente e modesta. Tenho lido quase tudo o que vem a público (e no Público) do Fr. Bento, bem como as suas respostas às solicitações e mesas redondas televisivas. E, depois do radicalismo dele, com que na essência comungo, ao conservadorismo de Roma, mais virado para a produção de "Santos e Beatos" que para pôr a Igreja nos carris do TGV da evolução, dou comigo a questionar-me: De que lado estou eu?... E acabo por me quedar no lugar mais cómodo, que é o do meio... -Deixa que eles pensem, que falem que decidam e depois logo se vê se eu sou capaz de ir atrás ou de continuar apaticamente no meu casulo. Não sei se "renovar" seria a terminologia adequada. Por mim, publicano confesso, seria capaz de preferir o termo "evoluir".
Como vedes, sou mesmo um católico sem opinião!...

Anónimo disse...

Amigo Nelson! Não é porque não estiveste em Fátima e não estudaste Teologia que a tua opinião é forçosamente insipiente e modesta. De todas as formas a nossa vida (mesmo intelectual) não terminou ao sairmos de Aldeia Nova ou de Fátima... O quotidiano (salpicado de momentos excepcionais) continuou a construirnos e felizmente que não fomos moldados pelo mesmo oleiro e nem o barro era o mesmo... Evoluimos diferentemente, temos opiniões bem diversas e algumas vezes opostas, mas sabemos escutar-nos e respeitar-nos nas nossas diferenças que são também a nossa riqueza. Recordo-me de uma frase que alguém colocou no blog: “a concórdia é a união dos corações e não a das opiniões”. Não é verdade que tu escolhas o lugar mais cómodo, o do meio e que continues apaticamente no teu casulo. Tenho lido atentamente os editoriais que escreves no teu jornal o RENASCIMENTO e vejo que o teu ‘engagement’ é total e é raro que te coloques do lado dos mais fortes... O editorial do 1° de Novembro termina dizendo aos representantes da Câmara de Mangualde: “Sentem-se conversem e entendam-se, que esse será o primeiro dos progressos. Estableçam entre si a primeira parceria, a da concórdia, a dos reais interesses da terra que quiseram servir e que juraram servir. O progresso de uma terra não se constroi com quezílias nem com proconceituosas minudências e muito menos com vozes dissonantes. Os nossos autarcas têm que demonstrar porque é que foram eleitos”. Quem assim escreve, meu amigo, não está no casulo nem procura as situações comodas. Somos todos diferentes e somos todos extraordinários... Aceitemos as nossas diferenças e enriqueçamo-nos com as diferenças dos outros. Permiti-me que cite 12 nomes (podia citar 50 e o resultado seria o mesmo) Alexandrino,Celestino, Costa, E. Bento, Horácio, Jaime, Moreno, Nelson, Neves, Vieira, Vitorino e o vosso servidor. Que temos em comum? A nossa infância e juventude! E que mais? Uma grande amizade, concordia e união dos corações. Tudo isto nos une! E que é que nos separa? NADA! Sabemos que somos todos infinitamente diferentes uns dos outros, mas essas diferenças são a nossa riqueza. Na aceitação do outro como diferente e porque diferente começa o verdadeiro respeito pela pessoa! Um abraço para todos especialmente para o Nelson que me inspirou estas frases, Fernando.

Anónimo disse...

Obrigado Fernando pela tua generosidade mas, acima de tudo, pela tua enorme amizade!
Esta minha vinda aqui, tem só a finalidade de informar que já tenho em minha posse várias fotografias do encontro, que me foram remetidas pelo Neves de Carvalho. Prometo inseri-las todas no blog, mas dai-me tempo. E quem tiver mais que mande!
Um abraço