1.
Cristianismo, clero, sexualidade.
É minha intenção, como antigo
seminarista, fazer algumas considerações.
Não com objetivo de deitar alguma acha
para fogueira, pois não a tenho. Penso de utilidade referir o contexto social
que "exigia" a entrada para seminários : miúdos marcados por famílias
de pobreza, que tinham como alternativa possível, uma formação "mais
elevada". Daí advêm enormes consequências.
...Cristo, Igreja, Seminários ... graça
ou pecado...sexo afinal...
(de...aos peregrinos interessados,
importa ler as duas entradas anteriores <).
Como peregrinos, vinham quase descalços
de todo o país, principalmente de Minho, Trás-os-Montes, Beiras, onde a riqueza
dos pobres era maior.
... faziam quilómetros para chegarem a
transporte, com mala de cartão a tiracolo. Assim eram os meus irmãos de destino
possível, ante outras possibilidades.
A minha estorieta perdia-se na sua
viagem, atribulada mas juvenilmente divertida, para alguns pelo menos.
Chegavam quase todos a Caxarias , onde
por costume, a carrinha do seminário os acolhia. Mas nem sempre. Sem GPS
futuro, ou bússola, traziam-se pela floresta de pinhais, a pé.
Chegar ao " Casarão, Seminário
", era ato, não só de resistência, audácia de descobridor, mas sorte de
escolha.
Os mais novos, de primeira vez,
normalmente lixavam-se ...isto porque, desde arruma o baú de lata e esquadria,
vareta de pau, no sótão, e por lá deixar o enxoval, em partida para acólitos da
Santa Igreja, até, com ignorância, chegar à camarata e escolher a sítio -cama,
mais confortável, era obra. Ficar exatamente em frente da porta de acesso, era
corrente de ar pela certa. Com mais um ano de experiência, aprendia-se onde
estacionar, onde gozar com muito mínimo e privacidade....esta era para conversa
noturna, desfilar de memórias/saudades? de casa.... daí se traziam traumas
vários, nos" calos das mãos manifestos : " Mostra lá as palmas das
mãos meu rapaz! ...calos grossos e expostos de trabalho de enxada outros de
dureza...
Escolhida que era a cama, na imensidão
da camarata, havia que criar rotina... petromax meia hora antes, levantar com
dito latinório de bater de palmas militar, lavar rápido de trombil dentário e
ala para missa ... estremunhada...
Neste deserto sem mapa, aparecia o que
era normal aparecer: Hormonas mais tarde normais, mas em ignorância... que dava
jeito castrar....mas nada feito...elas aí estavam em noites longas...
surpreendiam-nos pela humidade da manhã, distópicas.
A sexualidade oficial começava. De
ignorância feita, poluções noturnas ou ejaculações conscientes, mas de origem
estranha, fecundavam-se com espigar misto de pecado...no confessionário, com o
orientador espiritual obrigatório, lá tínhamos de confessar ,debitar: então meu
rapaz, masturbas-te? Claro que sim, respondia o outro lado do confessionário,
todo encolhido...e quantas vezes? Muitas, respondia -se, trocando três
admitidas por oitenta realizadas.
...esse grande pecado que era em
pensamento, actos, omissão,...um crime moral contra superiores , padre,
hierarquia, Deus afinal
...começava a estruturar essa coisa
imunda que era a sexualidade...e assim, em constante fazer igual e mentir por
medo, hábito, omissão....se ia discorrendo o tempo de pré-dedicatória ao
pecado, tentação, sacanice, eruditas pulsões...
Todos aqueles que vinham de tempos
sombrios, de escuridão vária, não avaliavam o cliente confuso do seu estar,
acabando feitos em Padres, Vigários, Reitores, Abades e Priores... quiçá Bispos
e Cardeais e até Papas... e a menos que fossem castrados, condenados a ereções
pecaminosas. Donde a excitação? Onde ou com quem satisfazê-las?
... após Vaticano II, abertura houve
para muitos de nós se avaliarem. Sair ou ficar? Saindo, saíamos da norma, da
tentação do pecado... ficando, conscientemente aprendia-se a arte da
sublimação ou... caímos na forte queda da perversão...e por aí muitos ficaram,
dos com a sua desgraça, imunes a consciência e afazeres pecaminoso e
traumáticos. A esses:. Deus ajude e sociedade julgue, puna, sem encobrimento,
de pecado e hipocrisia...
... e mais houvera se, para tanto haver
não fora curta a vida....
...um viajante destes temerosos mates...
F. Soares Torres
1 comentário:
Esqueci de mencionar também as Ilhas. Dos Açores conheci dois, sendo um deles figura proeminente: João de Melo Tem obra de excelência...." Noite Feliz com Lágrimas""
Assim me me desculpem por incorrecções formais. Foi algo que me surgiu no correr do teclado do Smartphone.
Com muita consideração o nosso Nelson pediu-me para inserir o texto da página de Facebook . As minhas desculpas pelo facto.
Embora não tenha aprofundado, a questão latente era sobre a vivência da sexualidade em seminários e outros internatos...quem me conhece saberá a minha opinião: Quem queira celibato poder tê-lo. Quem quiser casar, que o faça. Quem e mais importante, precisar de ser "sexy", praticar uma sexualidade em intimidade e liberdade, que o faça de modo informado e digno. Muito haveria dizer
No caso da Ordem Dominicana, em rigor, quem nela queria entrar, sabia que :. Pobreza, Obediência, Castidade eram exigências determinantes. Mas , obviamente que não eram garotos de onze anos, ou jovens mesmo que iniciavam noviciado, provenientes de contexto sócio - económico reverenciado no corpo do meu texto, que tinham maturidade para essa assumpção. Restava a capacidade de tomarem decisão difícil de saírem e fazer vidas de leigos. Actualmente já se tem outro posicionamento sobre tudo isto, mas com muitos solavancos.
Por amor de Deus, de nós mesmos e dos outros, digamos sim aos afectos, como moldura a uma sexualidade informada e fomada...
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