Chegou-me pelo correio
o DVD de “O Casarão”, que havia encomendado a uma distribuidora. Deixei-o
repousar por umas horas para que as poeiras, acumuladas ao longo de cerca de
setenta anos, se acalmassem.
Já o vi e hei-de revê-lo por muitas vezes mais, como forma
de acalmar as saudades e os sonhos de um tempo sem tempo.
Se gostei? – Não era o que sonhava mas gostei de visitar
espaços meus e nossos, com aquele instinto possessivo tão característico dos
que viveram e amaram cada recanto daquela Velha Casa tão abandonada e esquecida
e que o Filipe Araújo trouxe à nossa presença.
Avivou-me a memória e dei comigo a rememorar a Academia Fr.
João de S. Tomás, de que fui vice-presidente, sendo presidente o Fernando Vaz e
secretário o António da Silva Ferreira. Como se diz no filme, já havia uns
arreganhos de democracia, pois a direcção da academia era eleita por sufrágio
do universo dos alunos.
Recuando a esse tempo, idos de 1959/60 do século passado,
tinha sido ‘destacado’ para Aldeia Nova
o Fr. Miguel, que muito nos falou de Escutismo, de Baden Powell e de todos os
proveitos que os jovens poderiam arrecadar com a implementação daquele
movimento tão talhado para os rapazes de Aldeia Nova. De resto e se bem me lembro,
o pai do Fr. Miguel era dirigente nacional do CNE. Felizmente, ele ainda aí
está para confirmar ou corrigir. Todavia, ainda não era bem aceite tal
movimento no universo da comunidade docente, onde ainda pontificava como
director o Fr. Luís Cerdeira.
Se
bem se recordam os meus confrades e contemporâneos, as sessões da academia
compunham-se de discursos, poesia, leituras, canto, pequenas representações
teatrais e no final havia sempre críticos previamente indigitados. Numa das
sessões, coube-me a mim fazer o discurso e para tema escolhi precisamente o Escutismo. Preparei-me convenientemente
como era exigido, pesquisei, investiguei e lá elaborei o meu trabalho. No
decurso da apresentação, e uma vez que o tema representava, de certo modo uma
luta do colectivo, empolguei-me e quando citei uma máxima de Tihamer Tóth dei um murro na mesa que
nos servia de púlpito. Essa minha atitude gerou algum pasmo e espanto e mereceu
apreciação positiva dos críticos, que a minha memória já não guarda quem foram.
Havia, suponho que com regularidade
semanal, a reunião ‘capitular´ do corpo docente, onde tudo era sentenciado – o
aproveitamento escolar, os castigos e onde eram ditadas as expulsões. Dias
decorridos, diz-me o querido e saudoso amigo Fr. João Domingos, que a todos
tratava com extrema elevação: Nelson, o seu murro na mesa da academia, ouviu-se na
reunião!...
Nelson Veiga