O CASARÃO filme, continua vivo e de boa saúde pelos vistos, graças ao dinamismo do seu mentor e realizador Filipe Araújo, filho do nosso saudoso e sempre lembrado Horácio Peixoto Araújo. O filme continua vivo, dizia, mas o casarão, gaiola ou como lhe quiserem chamar, já não. Jaz morto e arrefece como o menino de Fernando Pessoa. E tão vivo está o filme, que no próximo dia 5 de Maio pelas 21 horas, será exibido na cidade de Guimarães na sala de cinema Castelo Lopes. Por isso a rapaziada do norte, esteja atenta e não deixe passar essa oportunidade.
Nelson
Estivemos aqui. Estive neste lugar onde agora regresso. E haverá regresso?
Passaram tantos anos mas reencontro ainda os meus pés gravados no pó destes caminhos. Aí estão marcados também os sulcos dos teus passos, pois, tu e eu fizemos em comum o percurso inicial que nos abriu os horizontes da vida. E nenhum vento pode apagar as marcas que ajudaram a abrir todas as manhãs vindouras.
Naquele tempo…lembras-te? (a saudade é uma ave incendiando a memória). Ah! Ecoam ainda em mim estridentes gritos no recreio, dispersas vozes chamamentos. Agora é um rosto, um olhar que me interpela, logo, um nome, esbatido pelos dias, arrastado pelo rio do tempo, que vem ter comigo.
É ainda a névoa da memória que me reconduz à sala de estudo, às noites ao longo dormitório, ao recreio onde um retorcido carvalho, umbroso, nos reconhecia a todos. Ai as declinações, o ablativo absoluto o verbo fero e eu in albis a ir para as aulas.
E havia risos, cânticos e sonhos, por vezes muita inquietação e dor. Então era o tempo da rosa, dos floridos jardins da juventude e uma paisagem infinita abria-se à nossa frente pois todos os caminhos então eram possíveis. Lembras-te?
Como não recordar esse tempo, recuperar esse lugar?! Foi aqui que, irmanados, no mesmo barco nos lançámos na aventura dos dias; foi aqui que nos fizemos, nos humanizámos e recebemos uma inapagável chama que para sempre ficou a acalentar as nossas vidas e é ainda essa chama que nos impulsiona pela encosta de um destino comum. Para sempre.
Em ti, alguns sonhos perduram desse tempo ou todos morreram na voragem dos dias que vieram depois? Remexe as frias cinzas da memória e encontrarás ainda o antigo fogo. Talvez o fogo conjugado com o gelo, num lugar onde, tu e eu, nos olhámos e de onde as nossas vidas dispersas enfrentaram o tempo. Olha, é preciso, sempre e sempre deixar ouvir o coração.
2 comentários:
Abraço Eduardo Bemto!
Abraço Nelson!
Trecho fantástico,,,!
Eduardo Bento, claro!
Antero Monteiro
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