sábado, 31 de dezembro de 2016

Aniversários em Janeiro


Durante este mês celebram o seu aniversário os
nossos Amigos
NOME                                                                 Dia
  Domingos Pires Lopes                                                    1
  Carlos Alberto Sequeira                                                  1
  Álvaro Belmar Esteves                                                   1
  Carlos Jorge dos Santos Videira                                      10
  António  Cândido Salzedas Martins                                   11
  Frei Gil Filipe                                                              23
  Armando Ferreira Neto                                                 24
Para todos os nossos parabéns e os votos de um futuro cheio de 

Bençãos de Deus.

PARTIU MAIS UM DOS NOSSOS


JESUÍNO VAZ MARTINS

 Faleceu ontem, dia 30, Jesuíno Vaz Martins (ex-Frei Humberto) com 78 anos de idade, aluno e professor no Seminário de Aldeia Nova, tendo cursado Filosofia e Teologia no Convento dos Dominicanos em Fátima. O funeral realizou-se hoje, dia 31 de Dezembro pelas 11h30, da Igreja de Queijas para o cemitério de Carnaxide, Oeiras.
A toda a família em luto de uma forma particular a seu sobrinho, nosso companheiro e amigo, Baltazar Martins Jesuíno, sentidas condolências

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

BOAS FESTAS

SANTO NATAL 
Não vale a pena fazer aqui um discurso ou aperfeiçoar a retórica para deixar os meus votos de Boas Festas. Os tempos não correm de feição e por isso a economia, tanto no tempo como nas palavras, é sempre aconselhável. Os chavões, as frases feitas e a demagogia, ficam para os políticos. Nós, queremos a continuar como somos, vangloriando-nos do que fomos e do que queremos continuar a ser.
BOAS FESTAS DE NATAL
 PARA TODOS OS QUE AINDA TÊM A CORAGEM DE VIR AQUI, E UM ABRAÇO AMIGO
Nelson

domingo, 18 de dezembro de 2016

DE MÃE A DISCÍPULA


                                                                                                          Frei Bento Domingues, O.P.
1. Pertencem a Paulo os primeiros escritos do Novo Testamento. Não são de carácter narrativo. São tentativas de interpretação de uma experiência que mudou completamente a sua vida, que o fez nascer de novo. A iluminação que derrubou as suas certezas não o fez ver apenas que nem Jesus nem os seus discípulos eram traidores da autêntica fé de Israel. Esta tinha sido atraiçoada ao deixar-se prender pela Lei, pelos seus preceitos e regulamentos, tornando-se uma questão nacionalista.
Jesus não cabia em Israel e não era só um judeu fora de série. Era um começo novo da humanidade. S. Lucas imaginou a sua genealogia como filho de Adão, como filho de Deus[i] e S. Mateus dirá, citando Isaías, que ele é Deus connosco[ii]. É o evangelho de um filho da humanidade para toda a humanidade.
Quem frequentar as engenhosas narrativas, magníficos romances do nascimento e dos começos da vida de Jesus, não corre o perigo de imaginar que estamos a preparar, com o Advento, o nascimento de Cristo, assunto há muito resolvido. O que nos falta é consentir em nascer de novo. Como já referimos na semana passada, a grande figura do Natal é Nicodemos, um fariseu membro do Sinédrio[iii], que andava de noite à procura da luz.
2. Maria, nunca foi, nunca será tirada do Presépio, mesmo que este não figure nem no Evangelho de Marcos nem no de João, que apanharam Jesus já em andamento.
No Evangelho de João, Maria é surpreendida entre dois milagres, ou sinais, como ele gosta de dizer. Tudo começa com um casamento onde se encontrava a Mãe de Jesus e para o qual também o seu filho e os seus discípulos foram convidados.
É estranho que numa boda falte vinho. Maria mostra-se muito ansiosa com aquela vergonha e pede ao filho que faça alguma coisa. Recebe uma resposta mal criada, agressiva. Maria faz-se desentendida e diz aos serventes: fazei o que ele vos disser. Água não faltava e, de repente, torna-se num vinho de excepção. Todos conhecemos o resto da conversa, o milagre da água convertida em vinho. Só que o verdadeiro milagre não foi esse. Esquecemos o milagre dos milagres.
Fixemos o contraste da narrativa. No começo, Maria é a mãe que mostra a sua relação com o filho. O seu filho. É ela que toma a iniciativa. Não esqueçamos a continuação.
Depois do que aconteceu, desceu a Cafarnaum ele, a sua mãe, os seus irmãos e os discípulos. Ali ficaram alguns dias.[iv]
Qual foi, então, o grande milagre? A partir daquele momento, no Evangelho de S. João, nunca mais se fala de Maria, mãe de Jesus. Só reaparece durante a crucificação do seu filho: Perto da cruz de Jesus, permaneciam de pé a sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Clopas e Maria Madalena. Jesus então, vendo a sua mãe e, perto dela, o discípulo a quem mais amava, disse à sua mãe: Mulher, eis o teu filho! Depois disse ao discípulo: eis a tua mãe! E, a partir dessa hora, o discípulo recebeu-a em sua casa[v].
3. Que significa este longo silêncio? Jesus viveu uma longa polémica com os discípulos: traído por um e abandonado por muitos[vi]. Os seus irmãos também não acreditavam nele[vii].
O caso de Maria é completamente diferente. O Evangelho de João mostrou que a mãe de Jesus deixou de mandar no seu filho, mas não o abandonou, nem deixou de acreditar nele. Tornou-se a mãe que vai, silenciosamente, para a escola do filho. Só reaparece quando já está identificada com o projecto de Jesus e com a decisão de o acompanhar até ao fim.
Se Jesus passou a vida, a sua vida de intervenção pública, a tentar fazer família com que não era da família, a ponto de os familiares o julgarem doido[viii], na cruz, Maria é apresentada como a Mãe da nova humanidade. Ela vai aparecer no meio dos apóstolos na preparação do advento do Pentecostes: eram Pedro, João, Tiago, André, Filipe e Tomé, Bartolomeu e Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão Zelote e Judas filho de Tiago. Todos, unânimes, eram assíduos à oração com algumas mulheres, entre as quais Maria, Mãe de Jesus e os seus irmãos[ix].
O doido da família conseguiu enlouquecer a família.
Se a Igreja renunciasse a trabalhar por um mundo, família de muitas famílias, de muitos povos, culturas e religiões ou sem religião, significaria que tinha renunciado a acreditar na sua missão: revelar que, na sua imensa diversidade, há uma só humanidade, feita de filhos de Deus, de irmãs e irmãos. Talvez continuasse a falar na dignidade e no primado da pessoa humana, mas estaria apenas a referir-se a uma abstracção.
Importa confessar que isto está muito atrasado. Passaram dois mil anos e, quando dizemos que Jesus é o Messias, ainda estamos longe dos poemas de Isaías e das promessas do Apocalipse de um novo céu e uma nova terra[x].
Não é coisa que não se soubesse há dois mil anos. As parábolas do grão de mostarda e do fermento não nasceram por acaso.
No entanto, nem elas nos podem valer. Não temos nenhuma fórmula que nos explique o mistério do tempo. A Fé cristã está ligada a um crucificado. A Ressurreição diz-nos que a morte não é a última palavra sobre a nossa vida. A sua garantia só é dada pelo que fizermos para ressuscitar alguém esquecido na sua dor.
A igreja não tem nenhuma fórmula para salvar o mundo. É uma convocatória para o trabalho. Não é pouco.

in Jornal Público 18/12/2017

[i] Lc 3, 38
[ii] Mt 1, 23
[iii] Jo 3, 1-21
[iv] Jo 2, 1-12
[v] Jo. 19, 25-27
[vi] Jo 6, 64-71
[vii] Jo 7, 1-16
[viii] Mc 3, 20-33
[ix] Act 1, 12-14
[x] Ap 21-22

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

SEMEADORES DE MUDANÇA: POETAS SOCIAIS (2)

           
                             Frei Bento Domingues, O.P.

1. A partir dos finais dos anos 60 do século passado, os militantes dos movimentos cristãos eram bombardeados com repetidas afirmações marxistas: a fé é a alienação da vida humana, a Igreja é o secular instrumento da alienação e os padres são os intelectuais orgânicos desse processo alienador.
A liturgia e a mística eram consideradas formas de fuga do mundo. Nesta perspectiva, a mística era rejeitada como expoente máximo do medo à realidade material, da fuga das responsabilidades sociais, da alienação na sua forma extrema. Era também recusada por ser uma mística de olhos fechados perante a história, sem ligação com as tarefas humanas[i].
Muitas atitudes e práticas religiosas, do passado e do presente, merecem bem esta crítica, mas diante do texto do domingo passado, e que desejo continuar hoje, essa crítica faz-nos sorrir. Não foram poucos os marxistas da época que se emburguesaram. Muitas pessoas da Igreja – e muitas que não se reconhecem em todas as suas expressões -, lideradas pelo Papa Francisco, vêem o mundo a partir dos excluídos e vivem em função da transformação da sociedade, como ficou claro no 3º Encontro com os participantes dos Movimentos Populares.
As organizações dos excluídos - e de tantas outras de diversos sectores da sociedade - estão chamadas a revitalizar e a refundar as democracias que atravessam uma verdadeira crise. Não devem ceder à tentação de se deixarem reduzir a agentes secundários ou, pior, a meros administradores da miséria existente. Nestes tempos de paralisia, desorientação e propostas destruidoras, a participação como protagonistas dos povos que procuram o bem comum pode vencer, com a ajuda de Deus, os falsos profetas que exploram o medo e o desespero, que vendem fórmulas mágicas de ódio e crueldade ou de um bem-estar egoísta e uma segurança ilusória.
Como vimos no Domingo passado, Bergoglio não acredita na fórmula beata: vai-se fazendo o que se pode e depois se verá. Para revitalizar a democracia é preciso não fechar os olhos e alimentar ilusões. Enquanto não forem radicalmente solucionados os problemas dos pobres, renunciando à autonomia absoluta dos mercados e da especulação financeira e atacando as causas estruturais da desigualdade social, não se resolverão os problemas do mundo nem problema algum. A desigualdade é a raiz dos males sociais[ii]. Por isso, o Papa Francisco disse e repetiu: o futuro da humanidade não está unicamente nas mãos dos grandes dirigentes, das grandes potências e das elites. Está fundamentalmente nas mãos dos povos, na sua capacidade de se organizarem e orientarem este processo de mudança com humildade e convicção[iii]. Não devem consentir em serem excluídos da Política, com letra grande, e reduzir cada um dos movimentos à sua pequena horta.
2. O velho argentino tocou num segundo risco dos Movimentos: deixar-se corromper. Assim como a política não é uma questão de “políticos”, também a corrupção não é um vício exclusivo da política. Há corrupção na política, nas empresas, nos meios de comunicação, nas igrejas e, também, nas organizações sociais e nos movimentos populares. Há corrupção radicada nalguns âmbitos da vida económica, em particular na actividade financeira. É menos noticiada do que a corrupção de âmbito político e social.
Importa, no entanto, realçar o seguinte: aqueles que escolheram uma vida de serviço têm uma obrigação acrescida de honestidade. A medida é muito alta: é preciso ter vocação para servir com um forte sentido de austeridade e humildade. Isto é válido para os políticos, para os dirigentes sociais e para nós pastores.
Disse «austeridade» e gostaria de esclarecer que esta palavra é equívoca. Refiro-me à austeridade moral, no modo de viver, pessoal e familiar. Não estou a falar daquela que é imposta pelas leis e astúcias do mercado…
3. A qualquer pessoa que seja demasiado apegada às coisas materiais e que ama o dinheiro, banquetes exuberantes, casas sumptuosas, roupas de marca, carros de luxo, aconselharia que compreenda o que está a acontecer no seu coração e que reze a Deus para que o liberte destes laços. Mas, parafraseando o ex-presidente latino-americano que está aqui, todo aquele que seja apegado a estas coisas, por favor, que não entre na política, não entre numa organização social ou num movimento popular, porque causaria muitos danos a si mesmo, ao próximo e sujaria a nobre causa que empreendeu. E que também não entre no seminário!
Peço aos dirigentes que não se cansem de praticar esta austeridade moral, pessoal, e peço a todos que exijam dos dirigentes esta austeridade, que — de resto — os fará sentir-se muito felizes.
É no Advento que estou a ler este longo, belo e exigente discurso do Papa. Não é para preparar o nascimento de Jesus. Essa questão está resolvida há mais de dois mil anos. Para o Natal que interessa, a grande narrativa é a conversa nocturna de Jesus com Nicodemos: precisas de nascer de novo e não perguntes como, sendo já velho[iv].
Boa receita! 
11.12.2016

in jornal Público

[i] Olegario González de Cardedal, Cristianismo y mística. Teresa de Jesús de la Juan de la Cruz, Educa, Buenos Aires, 2013, pp.215-216.
[ii] Exortação Apostólica Evangelii gaudiumn. 202
[iii] Discurso no segundo encontro mundial dos movimentos popularesSanta Cruz de la Sierra, 9 de julho de 2015
[iv] Jo 3, 1-21

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

SEMEADORES DE MUDANÇA: POETAS SOCIAIS (1)

              
                                    Frei Bento Domingues, O.P.

1. Falar e escrever para calar os outros era uma tradição papal que João XXIII interrompeu. O exemplo não vingou, mas o Papa Francisco tem gosto em acolher, ouvir e partilhar a palavra seja com quem for, seja onde for. Não aceita que a Doutrina Social da Igreja continue a ser apenas a voz dos Papas.
No passado dia 5 de Novembro, Bergoglio acolheu, em Roma, o 3º Encontro dos Movimentos Populares. No anterior, realizado na Bolívia, ficou claro que sem transformar as estruturas não é possível vida digna para as populações. A luta continua e entusiasma o argentino: “Vós, movimentos populares, sois semeadores de mudança, promotores de um processo para o qual convergem milhões de pequenas e grandes acções interligadas, de modo criativo, como numa poesia. Foi por isso que vos quis chamar poetas sociais”.
 O ritmo dessa poesia é marcado pelos passos da caminhada rumo a uma alternativa humana face à globalização da indiferença: 1. pôr a economia ao serviço dos povos; 2. construir a paz e a justiça; 3. defender a Mãe Terra.
O discurso do papa é longo e multifacetado[1]. É uma antologia da vida dos movimentos populares na resistência à tirania. Esta alimenta-se da exploração do medo e do terror. Os cidadãos que ainda conservam alguns direitos são tentados pela falsa segurança dos muros físicos ou sociais. Muros que prendem uns e exilam outros. De um lado, cidadãos murados, apavorados; do outro, os excluídos, exilados, ainda mais aterrorizados. Será esta a vida que Deus, nosso Pai, deseja para os seus filhos?

2. Além de ser um bom negócio para os comerciantes de armas e de morte, o medo destrói as nossas defesas psicológicas e espirituais, anestesia-nos diante do sofrimento do próximo e torna-nos cruéis.
Quando se festeja a morte de um jovem, que talvez tenha errado o caminho, quando se prefere a guerra à paz, quando se propaga a xenofobia, quando propostas intolerantes ganham terreno, sabemos que por detrás de tal crueldade sopra o frio vento do medo.
O Papa não esquece a capacidade mobilizadora da oração: peço-vos que rezeis por todos aqueles que têm medo. O próprio Jesus nos intima: Não tenhais medo[2]! Tende misericórdia. A misericórdia é muito melhor do que os remédios, antidepressivos e tranquilizantes. Mais eficaz do que muros, grades, alarmes e armas. E é grátis: uma dádiva de Deus.
Bergoglio acredita que todos os muros, mas todos, vão ruir. «Continuemos a trabalhar para construir pontes entre os povos, pontes que nos permitam derrubar os muros da exclusão e da exploração». Enfrentemos o terror com o amor!

3. O fosso entre os povos e as nossas actuais formas de democracia alarga-se cada vez mais, como consequência do enorme poder dos grupos económicos e mediáticos, que parecem dominá-las.
Sei, diz o Papa, que os movimentos populares não são partidos políticos. Em grande parte, é nisto que se encontra a vossa riqueza. Exprimis uma forma diferente, dinâmica e vital de participação social na vida pública. Mas não tenhais medo de entrar nos grandes debates, na Política com letra maiúscula, e cito Paulo VI: «A política é uma maneira exigente — não a única — de viver o compromisso cristão ao serviço do próximo». Ou então a frase que repito muitas vezes e já não sei se é de Paulo VI ou de Pio XII: «A política é uma das formas mais altas da caridade, do amor».
 Frisa, então, dois riscos na relação entre movimentos populares e política: o de se deixarem encurralar e o de se deixarem corromper.
Não se deixar cercar, porque alguns dizem: a cooperativa, o refeitório, a horta agro-ecológica, as micro-empresas, o projeto dos planos assistenciais... até aqui tudo bem.
Enquanto vos mantiverdes no âmbito das «políticas sociais», enquanto não puserdes em questão a política económica ou a Política com «P» maiúsculo, sois tolerados. A ideia das políticas sociais concebidas como uma política para os pobres, mas nunca com os pobres, nunca dos pobres e muito menos inserida num projeto que reúna os povos, às vezes parece-me um carro de carnaval a esconder o lixo do sistema.
Quando vós, da vossa afeição ao território, da vossa realidade diária, do bairro, do local, da organização do trabalho comunitário, das relações de pessoa a pessoa, ousais pôr em causa as «macro-relações», quando levantais a voz, quando gritais, quando pretendeis indicar ao poder uma organização mais integral, então deixais de ser tolerados. Estais a deslocar--vos para o terreno das grandes decisões que alguns pretendem monopolizar em pequenas castas. Assim a democracia atrofia-se, torna-se um nominalismo, uma formalidade, perde representatividade, vai-se desencantando porque deixa de fora o povo na sua luta diária pela dignidade, na construção do seu destino.
Não estará o Papa a meter-se em seara alheia? Sem qualquer monopólio da verdade, deve pronunciar-se e agir face a «situações nas quais se tocam as chagas e os sofrimentos dramáticos, e nas quais estão envolvidos os valores, a ética, as ciências sociais e a fé».
Continuaremos no próximo Domingo do Advento.

04.12.2016

in Jonal Público

[1] O meu texto pretende chamar a atenção para o discurso do Papa. Não procura reproduzi-lo. Os recortes e as paráfrases são da minha responsabilidade.
[2] Mt 14, 27