quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Páginas da Minha Vida (2)

   Espero que nesta altura já todas as correcções tenham tido lugar no que respeita ao meu português “mascavado”.
A propósito...sabem como é que se diz de um português da qualidade do meu em dialeto de Timor (tetum)? ” Makérik”! Há uma pessoa que sabe. É o Brízido.
Bem, isto é só para vossa cultura geral, está bem?
Ora, como ia dizendo, em Outubro de 1956 ingressei, juntamente com muitos outros no, Seminário Dominicano de Aldeia Nova.
Isto aconteceu uma semana antes de todos os outros estudantes voltarem das suas férias grandes. As razões porquê, só os superiores sabiam. Mas o que sei é que foi uma semana de trabalho de limpeza com que todos nós- “os caloiros”- tivemos que aguentar.
Para mim, habituado a uma vida dura de trabalho, aquilo era liberdade no seu melhor! Para outros, como o Neves de Carvalho, o Leopoldo não era tanto assim. Lembro-me que um dia fui dar com o Neves de Carvalho “empoleirado” num carvalho (árvore) que existia mais ou menos a meio do recreio e quase encostado à vedação, a chorar  e dizendo que queria ir-se embora.
Talvez por sermos os dois da região do Minho, criou-se entre nós uma amizade muito sólida e uma confiança mútuas que faziam com que nos apoiássemos  mutuamente.
Bem, isso são coisas que pertencem ao álbum de recordações.
Todos juntos, lá conseguimos navegar através daquilo que foram 5 maravilhosos anos de Aldeia Nova. Horas tristes e horas alegres; horas de desânimo e horas de muito ânimo; horas de aventura e horas de desventura (quando éramos apanhados em farras menos dignas de um seminarista-diziam os nossos superiores) como “assaltos” à dispensa e cozinha; pegar na carrinha e, ao empurrão levá-la até ao meio do recreio. Ter que a deixar lá até que o Pe. Armindo ou o Frei Domingos a fossem de lá tirar. As nossas forças não chegavam para a empurrar de volta. Havia um desnível entre a área em frente à cozinha, onde, geralmente, ficava a carrinha, que era impossível vencer com as forças de 3 ou 4 ”corrécios”...etc. Por vezes custa-me a crer que eu fiz dessas coisas. Mas lá está! A minha memória diz-me que sim! Sempre acreditei que fosse um bom menino. Mais bem comportado...
Também fumava-mos o nosso cigarrinho às escondidas.
Esta é uma parte da parte “negra” da nossa passagem por Aldeia Nova! Eu não devia mencioná-la. Mas como todo o resto, é parte das recordações do passado. É bom que todos saibam que, apesar de termos chegado até ao noviciado, não éramos santos. Porém, acho que, para descrever o que foram estes cinco anos, seria preciso uma memória de muitas, mas muitas gigas mesmo! E, confesso, eu não sou um  desses privilegiados!
Tínhamos a parte do desporto em que éramos muito activos e bons desportistas (salvo seja), especialmente em futebol onde o meu posto, como muitos devem lembrar-se, eu era um dos guardas redes.
As equipas eram formadas por uma mistura de elementos dos diversos anos quando para enfrentar equipas externas. Quando os jogos se desenrolavam entre nós, o mais frequente era organizar campeonatos entre os diferentes anos lectivos.
Mas tínhamos, também, os campeonatos de Voleibol, ténis de mesa, oquei em campo... Em cada uma destas classes desportivas, tínhamos muito hábeis e exímios elementos. Por exemplo, em futebol alguns de que lembro: Fontelo, Arnaldo Jordão, Lages Baptista para mencionar apenas alguns e desfazer de muitos outros.
No ténis de mesa(ping-pong), tínhamos: Lages Baptista, Joaquim Moreira, Lino, Joaquim Leopoldo, Pe Armindo e muitos outros.
No oquei em campo, vou mencionar apenas um porque é dele que me lembro como sendo um exímio controlador da bola com o stique, cuidadosamente escolhido entre os ramos das árvores e onde podíamos encontrar qualquer coisa que se parecesse com um stick de oquei em campo. E estou falando do Manuel Joaquim da Silva Leopoldo. Lembram-se daqueles renhidos desafios de oquei em campo desenrolados naquele terreno arenoso que era a área do recreio?
E com estas e com muitas outras, se passaram 5 nos em Aldeia Nova sem que, quase, não déssemos por isso! Muitas áginas seriam necessárias para descrever todas as peripécias que tiveram lugar no decorrer deste capítulo que foi a nossa passagem por Aldeia Nova.
Por aqui me fico por hoje, pois não quero abusar da vossa preciosa paciência.
Aproveito para a todos desejar
UM FELIZ NATAL E UM PRÓSPERO ANO NOVO.
Que ele seja para todos vós aquilo que vocês mais desejam.
Com um abraço fraternal,
António Ferreira

4 comentários:

Luís Ginja disse...

Não poderia deixar de dizer umas palavras ao António Ferreira que de tão longe vem lembrar-nos factos ocorridos há dezenas de anos e que quer queiramos quer não fazem parte da nossa história. Velhos tempos!!
À época, as aulas no ensino oficial, começavam sempre no dia 7 de Outubro de cada ano e nós chegamos a Aldeia Nova no dia 19 de Setembro. Por muitos mais anos que viva esta data para mim e sagrada e nunca a esquecerei, pois foi o primeiro aniversário que passei em viagem, longe da "terrinha".
A antecipação da chegada deveu-se a um congresso do Rosário que teve lugar em Fatima no ínicio de Outubro e onde marcámos presênça no próprio dia 7
Na manhã desse dia lá fomos nós, a pé por montes e vales até à Cova de Iria, onde a maioria dos mais velho vestiram então um hábito branco.
A ansiedade era muito por ir, mas depois daquela caminhada e estadia, o cansaço era muito e o regresso ainda foi mais penoso.
Lembras-te da guerra que a maioria de nós fizemos ao António José (mais conhecido por Muxagata)?
O rapaz sofreu as passas do Algarve e nós não compreendiamos que ele era doente.
Acabou por sair logo no início de Novembro
Muitas coisas havia ainda para a dizer, mas por aqui me fico, desejando-te as maiores felicidades para o ano que agora começou e dizer-te que o teu português continua como outrora


Anónimo disse...

Olá Ferreira! Continuas a escrever bem, à moda do Lugar de Sobre Seara. Freguesia do Calendário, V.N.de Famalicão, agora cidade. Tu já eras um moço e eu um puto de 10 anos, quando entrámos em Aldeia Nova. Eu era o mais novo dos filhos dos meus pais, e portanto habituado aos mimos com que era brindado pelos meus irmãos e irmãs, e por isso estranhei aquele ambiente. Ainda por cima numa terra que nem luz tinha, a noite era como bréu, contavam-se as estrelas de tão pronunciadas que estavam no céu, e eu habituado a uma terra industrial, a ouvir as sirenes das fábricas de tecidos a horas certas, as ruas com iluminação, a igreja com um carrilhão de sinos que perfaziam uma oitava onde se podiam tocar modinhas. E eu... em Aldeia Nova! Portanto, foi um bocado difícil para mim a nova situação. E um dia, a cair para o seu fim, dei por mim a subir para cima do carvalho a chorar que me queria ir embora mas não sabia como, tive a sensação de estar preso. Mas graças a Deus apareceste tu a chamar por mim, a consolares-me com boas palavras de incentivo e a acalmares-me. Mas, como nunca virei a cara à luta, lá enxuguei as lágrimas, desci do carvalho e na convivência com o resto da rapaziada lá se foram as saudades esbatendo, assim continuando pelos anos fora, aqueles que foram os cinco anos de Aldeia Nova. Eu nunca me esqueci desta passagem da nossa vida.
Um abraço
Neves de Carvalho

A. Alexandrino disse...

Olha que dois!! Ambos têm o saco cheio. Se eles começam abrir o dito, temos histórias até "vir a mulher da fava-rica"... Porque em questão de memória também têm milhares de "gigas". Repare-se na expressão do Ginja:"Muitas coisas havia ainda para dizer..." Ficamos à espera.
Abraços
A. Alexandrino

Nelson disse...

Venham lá essas coisas ainda por dizer!... Revitalizem este blog!
Também fico à espera.
Abraços
Nelson