In illo tempore… muitos de nós ficávamos em Aldeia Nova durante o período de férias de Natal e Páscoa, sobretudo os de mais longe. Aí pelos idos de 1957, o Pe. Luis Cerdeira consegue um acordo com a CP, que passou a fazer uns descontos especiais nos bilhetes de ida e volta e então a debandada era quase geral. Ora eu, mais o Celestino o Fernando Vaz e o Ferreira, tendo por mestre o Zé da Cruz (saludo Fr. Pedro), iniciámo-nos nas artes de barbeiro, mais modernamente cabeleireiro de homens. Num qualquer período de Natal, de 56 ou 57 talvez, eu também fiquei por A. Nova juntamente com muitos minhotos, transmontanos, beirões e outros. Era na verdade uma vida santa, só tendo que obedecer às ordens de levantar e recolher e ao toque da sineta para as refeições. Todos se lembram das instalações ao fundo do recreio, onde funcionavam os currais e também as instalações do pessoal da quinta que trabalhava sob as orientações do Irmão Fr. Domingos. Um desses funcionários da agro-pecuária, cujo nome já não recordo, solicitou os meus serviços e do Ferreira para um corte de cabelo. O rapaz era todo vaidoso, besuntava o cabelo de brilhantina e nós lá fomos prestar o serviço ao domicílio. Enquanto eu aparava o cabelo ao marialva, o Ferreira entretinha-se a afinar um cavaquinho que por ali encontrou, pertença do cliente ocasional. Concluída a tarefa, o Ferreira já dedilhava viras e chulas no versátil instrumento. Sei que no decurso da conversa, inócua presumo, que então travávamos, o homem é acometido de forte comichão nas partes ditas baixas e exclama enquanto se coçava freneticamente: Anda aqui qualquer coisa nas minhas brigalheiras!... Não é que, a partir daí, o respeitável funcionário passou a ser conhecido pelo “Brigalheiras”?!... Alguém se lembra desse nome? O Arnaldo Jordão do Vale, que não vejo nem aparece há uns anitos, nunca o esqueceu. Nesse ano, andámos de quarto em quarto a cantar as Janeiras aos Srs. Padres e ainda tenho presente a imagem de espanto e alegria do bondoso Padre Clemente de Oliveira, quando nos abriu a porta dos seus aposentos!... Lembras-te Ferreira, ou isto só está na minha memória de 10 000 gigas!...
Abraços
Nelson
6 comentários:
De facto, passada nem sequer meia dúzia de anos, o país tinha evoluído imenso e já ninguém ficava em A Nova nas férias pequenas, exceto os oriundos das colónias da Madeira e dos Açores.
Agora compreendo por que razão e em data certa éramos convocados para o Estudo de Baixo e convidados a preencher um modelo da CP, dias antes das férias, para a aquisição do bilhete de ida e volta. Bendita burocracia que nos livrou de apanhar uma camada de chatos nas "brigalheiras". Assim podíamos meditar com calma e sem micoses nos conselhos do best-seller "O Bom Seminarista em Férias". Alguém, por casualidade, conserva ainda um exemplar?
Até logo e um abraço.
Ferraz
Sendo certo que em Aldeia Nova aprendi o ofício de «barbeiro», ou melhor, de «cabeleireiro de homens», pois nunca fiz nenhuma barba, confesso que não me recordo do episódio nem do personagem «Brigalheiras» a que o Nelson alude com tanto pormenor e graça...
No ofício de «cabeleireiro de homens» que aprendi com o Mestre Zé da Cruz, cuja perícia no manejo da tesoura eu muito admirava, tive a oportunidade de dar uns geitos nas coroas dos saudosos Pes Oliveira, Vicente, Armindo e João Domingos.
E que cuidados eu tinha para não sair um quadrado em vez de um circulo...
Carecadas, eram às duzias...
Que o diga o Ezequiel e outros respeitáveis calvos de hoje, mas que à data eram dotados de grandes trunfas...
A vida é feita de pequenos nadas...
Fraterno abraço
Zé Celestino
Amigo Nélson,
Eu concordo com o Alexandrino(era assim que o tratávamos). Tú és, aínda, um daqueles “velhos computadores” que eram bons! Só que não tinham era tantas gigas. Mas sempre se podiam crescenhtar mais algumas. E creio que foi o teu caso! Até porque, no nosso tempo de Aldeia Nova ou Fátima, onde é que andávam os computadores?! Lembro-me que em 1973 começaram a aparecer as primeiras calculadoras ditas de algibeira (sim de algibeira do tamanho de um saco pois de outra forma tinha que andar na mão) quando subia e descia montanhas no exercício da minha profissão(topografia). Eram da marca Hp e já nos permitiam calcular os senos e cosenos dos ângulos e coordewnadas dos pontos o que era um sonho! Uma maravilha da tecnologia. Mal n’os imaginávamos onde é que a tecnologia iria ou vai parar!
Mas tenho quase a certeza que era por isso mesmo que as nossas memórias eram de capacidades tão volumosas(tinham tantas gigas). Por falar em gigas e por similaridade de sons, lembei-me do Luis Pires Gonçalves Ginja. Não aparece , o rapaz! Eu tnho-o visto em algumas das fotos no blogue. Esse tinha muitas jigas de memória. Nunca mais me esqueci do Ginja!
Está certo que tens as tuas “cábulas”. Não é crime nenhum: nunca foi! Nós sabemos muito bem disso. Podíam não ser muito bem vistas pelos professores, especialmente na altura dos pontos e dos exames. Mas era aí que elas eram mais nossas amigas!
Eu, tal como o Alexandrino, admiro a tua memória.
Ouxalá continues assim para que nos possas esclarecer, aquí e alí, os nossos erros.
Sinceramente, não me lembro do tal “brigalheiras”! mas deve ser facto famoso pois já houve quem corroborasse esse facto.
Fico-me por aqui, pois já vou muito além do se supõe ser um comentário.
Desculpem e...
Aquele abraço
Ferreira
Ferreira Amigo!
Nem te lembas do Brigalheiras nem, pelos vistos, do cavaquinho dele, que tu dedilhavas com arte! Recordarás, por certo, outras coisas que eu não recordo. Aqui estamos, para avivar memórias.
Grande Abraço
Nelson
Tenho uma imagem a bailar-me num recanto da memória, do Ferreira a tocar cavaquinho num sótão que servia de palheiro. Diz agora o Nelson que o cavaquinho era do Brigalheiras, quando eu pensava que era do próprio Ferreira.Também não lembro desse personagem que foi tão bem baptizado.
Abraços a todos.
A. Alexandrino
Boa Alexandrino! Era isso mesmo! Mas o cavaquinho era do "Brigalheiras", que 'morava' nesse sótão.
Abraço
Nelson
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