Citando o editor José Antunes Ribeiro, por todos, nem Camilo Castelo Branco deixou de descobrir, em 'O Portuense (1853) que '...falta-nos o respeito à lei, e a lei que deva respeitar-se...'
A invenção de paridade entre dois feriados laicos (5 de Outubro e 1 de Dezembro) e dois feriados eclesiásticos (dias n.º 60 depois da Páscoa e 15 de Agosto, parece) pode ter partido da Congregação dos Bispos e de fundamentalistas beatarrões, invocando a Concordata Portugal-Vaticano, mas corresponde apenas a construir um esqueleto de plástico no armário.
Por mim, prescindir-se-ia da 'oferta' e, havendo lugar à supressão ou mudança de data de feriados, actuaria apenas sobre os que nada têm a ver com a Concordata. Seria uma boa maneira de lembrar que a I República despojou a Igreja de coisas que, verdadeiramente, nunca lhe pertenceram e que os republicanos se meteram em coisas íntimas que não lhes diziam respeito. São lembranças documentadas que nenhuma formalidade de calendário poderá apagar!
Assim, acaba por ser como a parceria que, há muitos anos 'derrubou' as confederações de agricultores, 'comprando-as', através de dações sobre a gestão de certos subsídios para que deixassem de contrariar a venda da produção alimentar à CEE, com os 'brilhantes' resultados que estamos a ver...
Se apenas se tentou algum bom-senso, será de pessoas mal preparadas como as que, na Câmara de Lisboa, fizeram a lista de novos nomes para as freguesias futuras escondendo santos antigos e promovendo santos novos, ou esquecendo nomes consagrados sem ligação com coisas laicas ou eclesiásticas.
Tentando emprestar um pouco de inteligência à coisa, em ambas as situações haveria o intento de aproveitar a ruralidade da população portuguesa, muito ligada com a memória de rituais religiosos, lado a lado com o paganismo popular, usando tudo o que esteja à mão sobre possíveis fidelizações de tipo-supermercado!
E já que, por parte dos Governos, com destaque para o presente, tem estado na moda a transformação dos compromissos bilaterais em simples contratos de adesão dos pesos-leves aos pesos-pesados na remuneração dos factores produtivos e improdutivos, por que não aproveitar-se para encontrar maneiras novas de festejar o que verdadeiramente valha a pena?
Ou queremos voltar a ser sisudos como no tempo do botas?
Como disse Fernando Teixeira de Andrade (1946-2008), no seu livro de lições de literatura para pré-universitários, no trecho de 'O Medo: o Maior Gigante da Alma',
'Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.'
Um abraço.
Isidro.
3 comentários:
Amigo,
Condordo com (quase) tudo. Mas não confundo, embora muitas vezes sejam coincidentes em termos de território, de Freguesias com Paróqias.
Um abraço.
J.Ribeiro
Olá camaradas
Com palavras emprestadas por Adolfo Contreiras, disponível em adefesadefaro.blogspot.com, devolvo (que lhe faça bom proveito!) o veneno depositado no comentário anónimo, talvez devido a descoordenação motora que levou a carregar na tecla 'ENTER' antes do tempo, quebra de energia eléctrica que o imediu de ler o que tinha escrito e a degradação da memória, que o terá levado a esquecer que passou por aqui (pode começar por fazer palavras cruzadas para iniciar a recuperação):
«...
O anonimismo é uma escolástica do pensamento dos instintos.
Segundo Freud, o progresso na espiritualidade consiste em preferir os processos intelectuais chamados superiores (reflexões, recordações e juizos), aos dados da percepção sensorial instintivos.
O anónimo é o doutor da escola filosófica do instinto. Tal como o medroso armado dispara instintivamente sobre o que mexe na escuridão, o anónimo descarrega a opinião instintiva sobre qualquer opinião de fora que não faça inchar o seu amor-próprio.
A sua caça é a opinião alheia inconveniente, a sua arma o instinto, o seu esconderijo o anonimato.
Actualmente na blogosfera aberta, a grande maioria dos comentários a escritos de opinião ou notícias, são descargas de opinião primitiva dos instintos, como se se tivesse aberto a comporta duma estação de tratamento de águas sujas, sai o que está á porta de saída tal como o anónimo despeja a corrente mental instintiva que lhe ocorre à cabeça.
O Homem primitivo e nosso pai foi caçador nómada, viveu isolado em cavernas, intelectualmente infantil, apenas deixou marcas anónimas.
Será que a actuação dos anónimos actuais são sinais remeniscentes dessa freudiana herança arcaica dos nossos pais primitivos?
...»
Isidro.
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