Tive a honra e o enorme prazer de ter o Frei Bento Domingues hospedado em minha casa de 7 a 9 de Março do corrente mês para proferir, no auditório da Câmara Municipal de Barcelos, uma conferência sobre a leitura fundamentalista da Bíblia e métodos inteligentes de interpretação.
Frei Bento Domingues encantou um auditório a rebentar pelas costuras, uns sentados, outros em pé, pessoas que seguiram atentamente o orador, numa exposição, muito bem humorada, de 60 minutos e não manifestaram pressa em sair. Os 30 minutos, que se seguiram, para perguntas e resposta foram escassos e só não continuamos porque estava determinada uma hora limite.
“A Bíblia é um livro (um conjunta de livros) fantástico que precisa de ser estudado”. Afirmou: para se interpretar correctamente, a Bíblia precisa de estudo. O respeito pelo texto, tão diversificado em géneros literários e épocas em que foi redigido, às vezes recolhendo tradições muito anteriores, exige estudo, que não está ao alcance de todos. Estas ideias acompanharam a dissertação do reputado Teólogo Frei Bento Domingues, no âmbito da Semana Bíblica intitulada “A Palavra está na rua”.
Sugeriu um documento fundamental para a interpretação da Sagrada Escritura, precisamente intitulado “A interpretação da Bíblia na Igreja”, emanado em 1993 pela Comissão Pontifícia Bíblica. Citou vários exemplos recentes de como uma interpretação acrítica e literal viola o texto e ofende a Deus ao fazê-lo dizer aberrações humanas: pretendendo não o «tocar», empobrece-o e retira-lhe força.
“Não podemos acreditar sem interpretar”, disse Frei bento Domingues, que explanou o método histórico-crítico, “insuficiente” por si só, necessitando de ser acompanhado por outros métodos de análise. Por isso, destacou várias vezes a necessidade do estudo dos textos pelos leigos, homens e mulheres, porque “Deus não deixou de falar hoje e não exclui ninguém”.
Já São Tomás dizia que “a graça não substitui a natureza”, pelo que «a fé tem de ser questionada». Citando várias atitudes fundamentalistas, destacou as surgidas em contexto religioso, tanto protestante como católico, acabou por concluir que «a interpretação católica foi a que juntou sempre razão, emoção e fé».
O orador referiu a simplicidade com que as crianças «entendem» as linguagens que por vezes os adultos complicam e insistiu no empenhamento de todos em se investir no estudo dos textos bíblicos para uma atitude crítica, no respeito da inteligência que Deus doou ao ser humano.
Não faltou a abordagem do tema das mulheres, duma forma muito bem humorada e crítica, em relação à atitude da «Igreja Católica, Apostólica e Romana, -era o Dia Internacional da Mulher - para destacar a sua importância única e inquestionável para as linguagens acerca de Deus, aconselhando a que se tenha «juizinho» quando se fazem certas afirmações ou se justificam atitudes porque Jesus foi Aquele que operou a maior revolução cultural na maneira de considerar a mulher.
Barcelos, 10 de Março de 2010
Abílio Rocha
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