domingo, 28 de junho de 2009

O CARRO AUTOMÁTICO DO SENHOR CONDE

A história que trago para contar carece de uma explicação prévia para ser entendida.
O Sumo Pontífice é por inerência Chefe de Estado do Vaticano, que como qualquer outro Estado, possui embaixadas nos outros países. Os embaixadores do Vaticano, dão pelo nome de Núncio Apostólico. Algumas embaixadas são por tradição, trampolins para uma promoção na hierarquia da Igreja Católica. A embaixada em Lisboa, por tradição e certamente por deferência para com o elevado número de católicos de Portugal, permite ao bispo nomeado “Núncio Apostólico”, uma elevada probabilidade de promoção a cardeal.
A embaixada do Vaticano providencia e promove a atribuição de títulos nobiliárquicos, como o de Conde de Riba d’Águia. “A acção filantrópica, instruída segundo os princípios caritativos da Igreja Católica, mereceu a atenção do Papa Pio XII, que agraciou o industrial”, Sr. Fulano de Tal, com o título de Conde de Riba d’Águia.
Não sei se como causa ou consequência dessa distinção, o Senhor Conde era frequentador assíduo do Santuário de Fátima onde possuía uma solar, de todos conhecido e visitava frequentemente a embaixada do Vaticano em Lisboa.
Passemos então á história que é o mais importante.
Numa destas visitas, do Conde ao diplomata da Santa Sé, o “chauffeur”, Senhor António, estacionou o carro automático, último modelo “topo de gama”, junto da embaixada, entre alguns carros novos (ainda sem matrícula), propriedade de um representante duma conhecida marca de automóveis, situada paredes meias com a embaixada. O dito carro automático (cujo nome omito mercê das normas deontológicas) era pioneiro no sistema de mudanças automáticas. O Sr. António andava com o coração nas mãos “por via daquela modernice”. Este desabafo aos amigos, não se atrevia ele a emiti-lo junto do patrão. Sempre preferiu ter o domínio do carro com pulso forte na alavanca das mudanças. Naquele dia, quando percebeu pelos sinais que só um fiel “chauffeur” percebe, que o Sr. Conde ía sair da embaixada, o Sr. António dirigiu-se para o carro e a uma distância conveniente accionou o comando de abertura das portas. Para seu espanto o carro num salto vigoroso atingiu com violência o carro da frente e logo ali prensou quatro carrinhos novos em folha. Quando não conseguiu avançar mais, o carrão furioso engrena a automática marcha atrás e desbarata mais três luzidios automóveis à sua retaguarda, empacotando-os de tal forma que conseguiu espaço de estacionamento para outros três ou quatro. Não tardará a surgir um arrumador. Surgiram a intervalos pequenos, o empresário “vendedor de carros novos”, o representante dos Seguros, o representante do carro automático com um novo veículo saído do stand, e o Núncio Apostólico. Na companhia do Senhor Conde foram todos almoçar na sua mesa do costume, do restaurante habitual, excepto o Sr. António, que naquele dia nem conseguiu comer o almoço de marmita, tal a azia com que ficou. “Se houvesse por aqui um pobre dava-lhe o meu farnel. Mas os pobres costumam ficar à porta da igreja”, pensou.

Ezequiel Vintém

7 comentários:

Anónimo disse...

Não comento. Envergonho-me destes ataques à Igreja, por antepostos aos seus ministros.

António da Purificação

Anónimo disse...

Não querem lá ver que de cada vez que conto uma história, que naturalmente se desenvolve em ambientes próximos da Igreja, devido ao meu passado, o António da Purificação acha que estou a atacar a Igreja ou os seus ministros? Será que tenho que sujeitar-me a uma lobotomia para seccionar a parte do meu cérebro cujos neurónios guardam imagens desse meu passado? Será a única maneira do Purificação me deixar em paz?
E a minha imagem? Não fica ela emporcalhada por estas insinuações que só o Purificação descobre nos meus textos? Só peço um pouco de olhar simples sobre as minhas inocentes histórias, que nada têm de conotativo. Não queiram ver o que lá não está. Está bem, caro António da Purificação?
Ezequiel Vintém

nelson disse...

O Purificação é qualquer coisa parecida com um fundamentalista, assim um género de "ayatola" da Pérsia que é Irão. Não te abespinhes Vintém!...
Nelson

Anónimo disse...

Uma grande pretensão da Igreja de Roma é Harmonizar a fé com a razão..Joao Paulo II terá afirmado :"A fé sem razão é cega e a razão sem fé é louca ", cada vez que digo esta expressão respiro fundo de alivio por pensar que há gente sensata no mundo..De facto os cristão dos primeiros tempos faziam barbaridades em nome da fé e vai dai que os padres da Igreja se viram na obrigação de introduzir a razão como elemento moderador da fé de tantos..as verdades reveladas do cristinismo foram então estudadas à luz dessa outra razão filosófica e que vinha dos Gregos ,e da-se a essa filosofia o nome de escolástica..fundamentalista para mim é aquele que no arrobo da sua fé acaba por perder em parte ou totalmente a razão ou até`as vezes a sua acção contraria os valores defendidos pela sua fé e que não só vão contra os 10 mandamentos ,como contraria a nova lei do Amor defendida por Cristo (e que vem por um fim à lei de Talião do" olho por olho e do dente por dente") As Bem Aventuranças são então o novo código de conduta do Novo Testamento ...esta história é triste pelo que contem em si e pelo que se supóe serem os valores da Igreja e a facilidade com que os poderosos se podem apropriar da caridade até para promoção pessoal ou até para viverem melhor com o resto da sua vida de perdulários..mas se me permitem a achega ,"Caris" quer dizer a Graça e ser caridoso significa ver no outro a centelha de Graça Divina que também existe nos outros semelhantes e face a isso tratar com respeito e consideração todos os semelhantes, independentemente da condição, já é ser caridoso... mas caso tenhamos que dar dinheiro aos necessitados , o melhor é que não saiba a "mão direita o que faz a mão esquerda" (e é o que não me parece que se passe nesta história)

José Carlos Amado

Anónimo disse...

Esta sim é uma análise serena e fundamentada. Cada vez admiro mais o Dr. José Carlos que fortalece o orgulho de ser ex-dominicano. Ao contrário de outros médicos que afirmam nunca ter visto a alma na ponta do bisturi, este certamente pela educação recebida, sabe bem da interpenetração de corpo e espírito.A sua lucidez não permite preconceitos que enviesam qualquer apreciação, de cujo mal sofre o António Variações, perdão Purificação.
Ezequiel Vintém

Isidro disse...

"Vaidade das Vaidades! Tudo é Vaidade!"

é uma expressão que decorei no som de um professor italiano, sob o alfabeto grego clássico, durante o Curso Complementar dos Liceus na então "alínea" de acesso múltiplo ao ensino universitário de "Histórico-Filosóficas", "Filologia Clássica" e "Direito". Não foi, Guerra e Farinha?

Lembrei-me dessa expressão quando o António da Purificação e o Ezequiel Vintém prometeram um duelo sem padrinho formal, certamente por saberem que o Nelson não enjeitaria a função.

No necessário regresso às origens do contexto, atribuído a Salomão, vi uma mistura deste com a escrita de mais dois autores do século III A.C., através dum livro chamado "Eclesiastes", que agora vem emprestar honras "salomónicas" à combinação da lavoura do pseudónimo Vintém e do devoto Purificação.

Ora vejam:

...
4 Uma geração vai, e outra geração vem; mas a terra para sempre permanece.
...
7 Todos os rios vão para o mar, e contudo o mar não se enche; ao lugar para onde os rios vão, para ali tornam
eles a correr.
...
9 O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se fará; de modo que nada há de novo debaixo do sol.
...
15 Aquilo que é torto não se pode endireitar; aquilo que falta não se pode calcular.
...

P.S.
O que me apetecia mesmo era transcrever o "Cerimonial de Entrega das Credenciais do Núncio Apostólico" em Portugal, conforme a "Folha Official do Governo Portuguez", Número 168, 4ª feira, 29 de Julho de 1868...Isto só para começar...Mas nem a distância seria salomónica...

Anónimo disse...

Olá, Ezequiel Vintém.O "Sr Conde", que era assim chamado ainda eu era um garotinho, não era de Riba d'Águia como dizes, mas sim da minha terra, Riba d'Ave, do concelho de V. N. de Famalicão. Este senhor era filho dum grande industrial têxtil, o Sr Narciso Ferreira, que construiu a primeira fábrica têxtil algodoeira em Portugal, nos idos de 1889. Além da têxtil, o Sr Narciso interessou-se pela energia, construindo a primeira barragem para produção de energia hidroeléctrica, que foi a barragem do Varosa, no caminho de Peso da Régua para Lamego. Teve outras realizações de grande interesse económico para a sua região, o Vale do Ave, e para o País. Foi um industrial do tipo Alfrepado da Silva, o da CUF. O Sr Raúl Ferreira, Conde de Riba d'Ave, obteve da Santa Sé este título devido às suas contribuições monetárias para a Igreja ( mandou construir, a expensas suas, a nova igreja de Riba d'Ave ) e foi representante do Papa na inauguração da cidade de Brasília, mandada construir pelo Presidente Kubistchek de Oliveira.O conde de de Riba d'Ave tem uma casa em Fátima, próximo da rotunda dos Pastorinhos.É irmão de Delfim Ferreira, o grande industrial que deu nome a uma rua no Porto, junto à Via Rápida.

Esta nota que envio, Ezequiel Vintém, é só para dar a conhecer o homem que entra no episódio que tu descreves, mas mais poderia contar dele, o que talvez acontecerá noutra ocasião.

Um abraço, Ezequiel Vintém.

Neves de Carvalho