A propósito da minha situação realmente confirmo que fui submetido a uma intervenção, via veia cava inferior e que visava a aurícula esquerda naquilo que se chama uma ablação cirúrgica e cujo objectivo é prevenir novas arritmias no futuro (crises de fibrilhação auricular). Tenho 80 % de probabilidades de ficar bem ainda que tal situação aconteça no contexto de uma cardiomiopatia hipertrófica não obstrutiva. Sou seguido pelo prof. Ovídeo no Porto e fui operado pelo Dr João Primo no hospital Santos Silva (Monte da Virgem) onde fiquei 3 dias, na unidade de cuidades intermediários). Correu tudo muito bem e o que que custou mais foi o post-cirúrgico com as 24 horas de imobilização sempre na mesma posição. Faço uma vida normal e fisicamente sinto-me muito bem. Desde há 7 anos que sei que tenho esta doença e tenho conseguido lidar bem com ela. É uma situação genética e não tem nada a ver com coronárias ou outra doença cardíaca cuja origem também tenha a ver com o comportamento (não há tabagismo, alcoolismo, obesidade, diabetes, sedentarismo ou stress, etc). Pratico desporto, tenho cuidado com a dieta, controlo os valores sanguíneos e uso com sucesso técnicas de relaxamento. Eu costumo dizer que com esta doença estou a fazer o meu exercício prático de aproximação á morte. A morte conhecida e esperada e vista de uma forma natural. Provavelmente nem vou morrer desta história mas de outra coisa qualquer, mas como se trata do coração é sempre sugestivo e realmente às vezes a fronteira com a morte anda por ali. Como defendo a teoria e prática modernas dos cuidados paliativos (e que foram implementados a partir da década de 60 do século passado pela medicina- em abono da verdade parte da medicina sempre foi paliativa -e que só agora estão a chegar a Portugal, e isto porque as religiões há muito que as praticavam, sobretudo a cristã) tenho nesta doença um óptimo exercício exactamente para ver a morte com mais naturalidade e descontração. As implicações no trato e na relação com os doentes são muitas e variadas:
a)Mais conhecimentos sobre uma doença rara (cardiomipatia hipertrófica) e sobre uma situação comum (fibrilhação auricular)
b)Experiencia no uso de terapias:tratamento anticoagulante e anti arritmico.
c)Melhor orientação de certo tipo de doentes
d)enfoque sobre temas como a morte,o sentido e significado da vida, os cuidados paliativos.
Como me sinto em forma isto não vai diminuir a minha actividade médica (a não ser que ficasse em fibrilhação auricular definitivamente).
O amigo Frei Geraldes faz-me uma pergunta singela mas a resposta pode ser muito extensa. Para já fico por aqui e espero que tenha saciado a vossa curiosidade.
Um abraço fraternal deste vosso amigo
José Carlos
4 comentários:
Saúdo o regresso do José Carlos e a sua coragem, agradecendo a lição. Fiquei a saber algo mais sobre as coisas do coração... que são tantas!
O meu abraço e votos de um completo restabelecimento.
Nelson
Aumentam a nossa cultura geral estas explicações que o Zé Carlos nos dá da doença, mas o que mais importa é que o temos de volta. Um abraço e uma séria avertência: -que isso não se vlte a repetir!
Jaime
Caro José Carlos
Congratulo-me com a tua recuperação e admiro a tranquilidade com que geriste este momemto difícil da vida. Afinal, são os instantes-limite que nos confrontam connosco próprios e nos revelam limiares desconhecidos, porém profundamente humanos.
Hoje, falei com o José Geraldes e disse-me que tinhas sido operado. Sou visitante habitual do "blog" e, todavia, jamais asssociara o teu nome à pessoa, pois sempre te conheci por Frazão. Ou será que há algum equívoco?
Um abraço e votos de rápida convalescença.
Fernando Faustino
Eu realmente sou primo do João Amado Frazão que também é de Alqueidão..tirando isso somos pessoas distintas abraço
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