Caros amigos:
É contrariado e desolado que anulo a ida ao nosso encontro anual do dia 27 de Outubro em Fátima. Há um ano que para mim nada era mais evidente e tudo estava organizado! Mas... “o homem pôe e Deus dispôe” é maneira de dizer, pois que Deus não tem nada a ver com assunto. A verdade é que a partir de meados de Agosto, depois de vários exames, os especialistas decidiram que me devia submeter a uma operação cirurgica para procederem a ablação de uns centimetros de intestino. Operação simples e banal mas que necessita no mínimo oito dias de hospitalisação seguidos de um pouco de repouso... Estando o cirurgião disponível no dia 15 de Outubro, foi a data escolhida. Ao cirurgião que me perguntava se tinha esclarecimentos a pedir, respondí simplesmente que tendo em conta a minha ignorância neste domínio, me via na obrigação de lhe fazer confiança, como faço confiança ao garagista quando lhe deixo o carro para uma reparação... Faça o necessário para que a mecânica funcione... Disse-me que fazia uma centena de intervenções, deste género, por ano e que não haverá problemas! Não estou mesmo nada preocupado, visto que se havia um problema já se encontrou uma solução, então passemos a outra coisa. Nunca perdi tempo nem energia com problemas que me ultrapassam, ou que não são da minha competência.
Nunca há dois sem três, diz o ditado... Podeis estar tranquilos, pois já sou o terceiro, depois do Nelson e do Horácio... que estão de novo em forma! Para me mudar um pouco as ideis quinta feira à noite fui a um espetáculo e apeteceu-me fazer um comentário que o Nelson pode colocar no blog se tiver algum interesse! Um grande abraço. Fernando.
MÍSIA CANTA O FADO EM CLERMONT!...
Mais uma vez Mísia, descalça, pisa os palcos de Clermont Ferrand, nos quais ecoa ainda a voz da Amália que aqui esteve pelo menos em três ocasiões. “Lisboarium” é o titulo do espetáculo da Mísia. Esta fadista, a meu ver uma das que adultera menos o fado, propôs-nos um passeio pelas ruas de Lisboa! Estava rodeada por três guitarristas formidáveis. Sua simplicidade exterior contrastava com uma enorme riqueza interior. Como se a fadista estivesse conscientemente na penúmbra, para que o fado brilhasse mais... O Rei do espetáculo era verdadeiramente o Fado. A fadista, pequena e frágil silhueta, vestida de preto, rosto pálido, lábios vermelhos, cantou Lisboa com as palavras dos poetas amaldiçoados, de entre os quais sobressai, evidentemente, Pessoa. Rosto voltado para o alto, na diracção de um céu hipotètico, Mísia iça-se (na ponta dos pés) não para parecer maior, mas para engrandecer esta nossa música e os acentos de fatalidade que nunca abandonam uma alma portuguêsa, onde quer que se encontre. Esta cantora Ibérica, (mãe de Barcelona e pai do Porto) captou uma herança bem dificil, este fado que ninguém pode cantar sem primeiro o viver... O fado não suporta a mediocridade ou o aproximativo. Não é um grito que sai da garganta, ele sai das tripas e passa pelo coração e pela alma. O Fado, a fatalidade, a saudade, esta nostalgia sem tradução nas outras linguas e ainda menos nas outras culturas: o mar de palha, o tramways, a alfama, o bairro alto, uma cidade que nunca perderá sua alma ou a perderá com seu último folgo!...Mísia também soube dizer-nos, com as marchas de Lisboa, que esta cidade nem sempre é triste. Em conclusão e respondendo aos numerosos bis...bis...bis, a nossa fadista, por gentileza para com os numerosos franceses que vieram aplaudí-la, disse que o fado tinha o seu equivalente em França e cantou Piaf... Os Luso descendentes ouviram com orgulho, os franceses com respeito e admiração e os velhos emigrantes como eu, que eram a maioria, com saudade,
Fernando Vaz