segunda-feira, 28 de abril de 2008

PARABÉNS AO RUFINO!...


Covas-Guia (Pombal) viu-o nascer.
No campo desportivo era um defesa de respeito. Fazia uma dupla com o Costa que não havia falhas. Como sineiro era duma pontualidade que fazia lembrar o rigor Suiço. Sóbrio e discreto, com sentido da partilha e do comunitário. Amigo do seu Amigo.
Sabem de quem estou a falar?... -MANUEL RUFINO
Para ti um abraço de parabéns neste dia 28!...
J.Moreno

terça-feira, 22 de abril de 2008

POR ESTA ESTRADA


ESPEREI QUE ABRIL VIESSE...

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo.

Sophia de Mello Breyner



Este poema de Sophia diz-nos do 25 de Abril, “onde emergimos da noite e do silêncio”. Ali começava toda a esperança. Uma esperança intemporal que tinha toda a eternidade para se cumprir. E o ar andava cheio de promessas, sonhos e canções. A poesia conquistou as ruas porque vinha aí o tempo do amadurar do trigo e os campos estavam cheios de papoilas.
Então começávamos a tecer a liberdade e à nossa frente abriam-se caminhos, navegávamos por rios e mares desconhecidos e nenhum naufrágio era possível porque não havia distância nem lonjura e as nossas mãos abriam todas as cortinas da manhã.


Mas não. Desfez-se o nevoeiro, surgiram as arestas e D. Sebastião não veio. Breve as estradas desembocaram na noite e os pastores do tempo tomaram conta de todos os caminhos. Era Ali que eu esperava a liberdade, o fim da guerra e da fome. Tinha a certeza de que assim seria. E esperei que Abril viesse, e tão pouco do que eu esperei aconteceu.


Estamos na história. É neste barco que vamos e não noutro. Estamos no reino das coisas imperfeitas. E há homens que sofrem o desemprego, a fome a pobreza. Em três décadas vimos morrer tanto sonho, desvanecer-se tanta esperança. Sabemos que poderia ter sido diferente. Bastava mais querer, menos conformismo. E que os interesses de alguns, poucos, não se tivessem sobrepujado aos de muitos. Bastava que o rotativismo partidário não fosse esta máquina de trucidar o Bem Comum. Bastava que o nosso egoísmo se transformasse em solidariedade.
Mas valeu a pena. Valeu a pena ter estado naquela madrugada e ter habitado, ainda que brevemente a “substância do tempo”. Apesar de tudo, Abril demora ainda em nós e espera Maio.

Eduardo Bento

sábado, 19 de abril de 2008

JUSTIÇA - José Carlos Amado Santos


A propósito da justiça desde logo se podem manifestar muitas perguntas: o que é a justiça? onde está a justiça? Há justiça neste mundo? É bom ser-se justo?... tantas perguntas e tantas repostas e desde sempre houve quem queira identificar a justiça como a vontade do mais forte! Tema de pensamento sempre actual, desde a antiguidade ocidental que os homens, nas suas diversas condições, sobre ela se têm vindo a manifestar... Desses, talvez os filosofos, os místicos e os homens do direito fiquem mais próximo da essência dessa indagação... A propósito recordo que foram Sócrates e Platão talvez os descobridores da razão ética segundo a qual existe um correspôndencia racional entre o bom, o belo e o verdadeiro... A esta correspôndencia chama Platão de "IDEIA", a qual é a dimensão inteligível dessa mesma relação, razão pela qual ela se manifesta ao pensamento através da compreensão e da razão, sendo que própriamente aquilo que habitualmente chamamos de bom, belo e verdadeiro apenas nos aparece na vida quotidiana como uma aparência que nos é dado pelo sensível nas sua diversas manifestações... Assim aquele pensador vem a explanar na sua "Républica" a sua "Ideia" de justiça e segundo a qual, justo seria cada qual realizar as tarefas para as quais está vocacionado e pelas quais se pode auto-conhecer a si próprio e servir, como também e ao mesmo tempo servir a cidade ou a sociedade que ele habita... Para isso proponho aos amigos a Leitura da Républica de Platão como primeira abordagem do tema da justiça... ao longo dos séculos o tema, como se disse, não cessa de preocupar todos e os mais infelizes sempre reclamam a propósito das injustiças deste mundo... O filósofo que se segue (esse discípulo de Platão) e que se chama de Aristóteles, no seu livro Ética a Nicómaco parte V avança com muitas especulações sobre a justiça: -"todos os homens entendem por justiça esta espécie de disposiçâo que os torna aptos a realizar ações justas e que os faz agir justamente e desejar o que é justo; do mesmo modo, a injustiça é esta disposição que os faz agir injustamente e desejar o que é injusto"..."o justo é conforme à lei e respeita a igualdade e o injusto é contrário á lei e falta à igualdade"..."o homem injusto colhe sempre mais do que é bom mas menos no que diz respeito às coisa más"..."O homem injusto quando toma mais do que lhe é devido tal não diz respeito a todos os bens mas mais a bens que têm a ver com prosperidade ou adversidade" e isto tem a vêr com bens exteriores, riquezas e honras,etc... "Somente a justiça, entre todas as virtudes, é o bem de um outro visto que se relaciona com o nosso próximo, fazendo o que é vantajoso a um outro, seja um governante seja um associado. Ora, o pior dos homens é aquele que exerce a sua maldade tanto para consigo mesmo como para com os seus amigos, e o melhor não é o que exerce a sua virtude para consigo mesmo, mas para com outro; pois que dificil tarefa é essa"... "Portanto , a justiça não é uma parte da virtude, mas a virtude inteira; nem é o seu contrário, a injustiça, uma parte do vício mas o vicio inteiro". A Justiça ainda segundo Aristóteles tem espécies: a corretiva e a distributiva: É de Aristóteles o seguinte princípio formal de Justiça: "iguais devem ser tratados de forma igual".
Desculpem lá os amigos mas temos de aquecer a discussão sobre o tema da justiça e espero que esta introdução da minha parte seja para vós um bom aperitivo... Outras, próximas, se seguirão.
Um grande abraço ,
José Carlos

sexta-feira, 4 de abril de 2008

UM DIA NA VIDA DE UM MÉDICO -por José Carlos Amado dos Santos


O dia está calmo e sereno... lá fora o tempo é primaveril o Sol já aquece... a luminosidade torna-se intensa e este ritmo sazonal que em nós brilha mais uma vez se confirma... A primavera para mim é a mais bela das estações, o calor, o sol a vegetação e as plantas e árvores que lançam os seus rebentos verdejantes e as suas promessas em flôr... Estou a trabalhar no serviço de atendimento permanente de Marinha Grande e os doentes chegam à consulta um após outro naquela cadência irreflectida que a doença e a morte nunca esperadas e queridas propiciam... doença e morte também no tempo da Primavera! Estou a trabalhar neste centro de saúde faz 5 anos e nem sei muito bem como vim aqui parar... nada me liga a esta terra... Só a proximidade a estas praias do Oeste me atrai aqui: S.Martinho do Porto, Nazaré, S.Pedro de Moel... as minhas praias da infância e juventude... Um dia enquanto petiz do seminário dominicano viemos todos em autocarros até à praia das Paredes e aí passámos o dia em alegre brincadeira e confraternização... eram nossos vigilantes, se a memória não atraiçoa, o padre Rogério e o padre Alberto... também aqui muito próximo aos 13 anos, em S.Pedro de Moel e na praia velha junto ao riacho de Moel, pelos idos do mês de Julho desse ano, acampámos 4 :eu, José carlos, o Gabriel da Barragem do Castelo de Bode, o Zé Mendes da Caranguejeira, mais conhecido por Zé Francês e o Frei Gonçalo. Foram 5 dias intensos naquele campismo ingénuo e selvagem a habitar uma tenda para 4 pessoas e com as horas livres para os passeios e brincadeiras, ora na floresta ora na praia... E no intervalo da brincadeira, cada qual tinha as suas tarefas destinadas e nem o terço da noite era esquecido. Os anos são passados e faz tanto tempo, agora aqui mesmo ao lado, pratico medicina: depois de tantos anos no Norte, em Peso da Régua, com uma população maioritáriamente camponesa. Agora, em Marinha Grande, tenho uma população maioritáriamente operária... E assim aqui estou eu hoje, a trabalhar para mais um dia de consultas e cuidados... Aqui hà dias uma doente que procura afirmar-se como vidente vem à consulta e afirma: -"O Sr. Doutor é médico, mas junta a formação habitual das escolas de medicina, a uma formação de origem religiosa"... perante tal afirmação não pude deixar de concordar e de longe me apercebo que muito do que eu sou, penso e faço, vem dessas origens humildes, laboriosas e trabalhadas de pensamento, acção e comportamento, introspeção e retiro espiritual, estudo das matérias liceais e convivio mais ou menos são com os colegas e os superiores... ao começar a pensar a acção logo me iniciei na ética e muitos dos pensamentos bem como temas de reflexão espiritual só os venho a compreender muitos anos mais tarde com a prática médica que no seu comportamento deve muito ao Hipócrates, mas talvez ainda mais ao cristianismo...
A próxima consulta: ... ... Então o que se passa? -pergunto eu. -Olhe senhor doutor tenho andado muito molenga e eu ontem estava deitada no chão e o meu marido encontra-me uma carraça no pescoço e retira-me e o que me fez vir cá foi uma prima minha que ja tinha estado muito mal por causa de uma carraça... Eu concordo e entendo que tem todo o sentido ,a senhora está a fazer uma febre da carraça e precisa de vibramicina ...e neste 3 de Abril as consultas correm lentas ou apressadas ao sabôr da necessidade enquanto nos intervalos vou escrevendo estas linhas
Um grande abraço
José Carlos