domingo, 30 de março de 2008

DIFERENÇA CRISTÃ?


1. Em Portugal, segundo alguns inquéritos, a crença num Deus pessoal é muito alta, a confiança na Igreja católica é muito superior à média europeia, mas a crença na vida depois da morte não vai além dos 40 por cento.


S. Paulo, há dois mil anos, dizia aos cristãos de Corinto: "Se se prega que Cristo ressuscitou, como podem alguns dentre vós dizer que não há ressurreição dos mortos? Se não há ressurreição dos mortos, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, vazia é a nossa pregação, vazia é também a vossa fé." (l Cor 15,12-14).
Paulo sabe que está a forçar a nota. Tanto para judeus como para gregos, um blasfemo crucificado, um abandonado da divindade não podia ressuscitar... Mas sabe também que a cruz do ódio e da violência, a religião do Deus dos exércitos e da sua lei foram derrotadas pela paixão de um Deus silencioso, presente na fidelidade de Jesus ao caminho da não violência, da compaixão, do amor aos próprios inimigos.
Na minha infância e adolescência, a Páscoa era a festa que transfigurava a aldeia. A cruz iluminada e florida já não era um instrumento de tortura, mas o sinal de vitória sobre a pior das mortes que visitava todas as casas. Era beijada por todos, desde as crianças aos moribundos. Era a aparição do sentido de tudo!
2.Hoje, para muitos, a Páscoa são as férias da Páscoa, não a ressurreição da vida. É verdade que o primeiro e directo sentido da palavra "ressurreição" não pode ser mais banal: sair do sono, levantar-se, pôr-se de pé. Não nos deixemos perder, no entanto, com etimologias. A significação das palavras depende sobretudo do uso que delas se faz. Ressurreição acabou por ficar reservada, entre judeus e cristãos, para dizer que a última palavra sobre o ser humano não é a morte, mas o acesso misterioso à vida plena e definitiva. Não foi por acaso que a ressurreição se formulou no interior do judaísmo, no começo do século II a.C., para dizer que Deus não podia deixar num eterno xeol (profundidade da terra, lugar dos mortos) os mártires macabeus que tinham dado a vida para defender as tradições de Israel. Para fazer justiça às vítimas da história, o recurso à imortalidade da alma, perante a morte - como na Grécia -. era insuficiente no âmbito da antropologia semita.
Os especialistas destacam a diversidade do vocabulário que o Novo Testamento emprega para falar da ressurreição de Jesus e das suas aparições. Alguns autores distinguem três tipos de linguagem, todas elas com vantagens e inconvenientes, para exprimir aquilo em que se acredita: a da ressurreição, a da vida e a da exaltação. Importa ter presente uma observação do exegeta P. Grelot. Segundo ele, não se pode falar da morte e do além sem recorrer à linguagem simbólica, linguagem de registos diferentes: o analógico, por exemplo, a minha relação com Deus é análoga - semelhante e diferente - à relação da criança com o seu pai; o figurativo, que, na Bíblia, serve para traduzir a relação recíproca entre Antigo e Novo Testamento; o mítico, para falar daquilo que se encontra fora do alcance dos sentidos: Deus está no "céu" e, inversamente, existe um lugar simbólico da morte e do mal, "lá em baixo", "nos infernos", no extremo oposto ao "céu", lugar de Deus. Pela mesma razão, as origens e o fim escapam radicalmente às nossas percepções sensoriais e até intelectuais: brotam do mítico para a linguagem simbólica.
Fora desse caminho, entramos por becos sem saída. Essa linguagem não pretende descrever uma teoria científica ou uma indagação metafísica. O ser humano, para falar das dimensões mais profundas da vida, não pode deixar de recorrer a essa linguagem indirecta, quase sempre paradoxal.
3.Somos limitados, mas humanos. O desejo de quebrar todos os limites é a nossa marca, mas a morte resiste como última lei. No entanto, mesmo perante a morte, nem todos se resignam a ser, apenas, um adubo da natureza e um escravo da espécie. Seria a derrota definitiva do indivíduo, da pessoa ou uma cedência total ao niilismo.
Jacques Derrida, o filósofo da desconstrução, pouco antes de morrer, numa entrevista ao Le Monde, dizia que somos estruturalmente sobreviventes. A desconstrução está sempre do lado do sim, da afirmação incondicional da vida. A sobrevivência é a vida além da vida, a vida mais que a vida. "O discurso que prenuncio não é um discurso mortífero, pelo contrário, é a afirmação de um vivente que prefere o viver e, portanto, o sobreviver, à morte, porque a sobrevivência não é só o que fica: é a vida mais intensa possível."
A diferença cristã tem aliados no desejo, na cultura e nas outras religiões. Funda-se, no entanto, na convicção de que o desejo de Deus é mais forte do que a morte: "Alegrai-vos, porque os vossos nomes estão inscritos nos céus, no coração de Deus" (Lc 10, 20).
Não temos informação absolutamente nenhuma do que será a nossa identidade transfigurada. O Novo Testamento também não sabe. Numa rede de narrativas e imagens paradoxais, quase contraditórias, procura mostrar que o Ressuscitado é Jesus de Nazaré, o crucificado: o mesmo e inteiramente diferente. Tenta dizer o indizível.
BENTO DOMINGUES OP
in Público 23.03.08




sexta-feira, 28 de março de 2008

A JUSTIÇA



O padre Pedro "caçou-me" ,simplesmente porque eu queria "caçar " o Frei Bento Domingues e fazer-lhe uma pergunta que podia ser dificil ou não.... e pô-lo a falar sobre o amor a partir dessa pergunta e que foi que é Agapé (amor cristão) e o que é Eros ,bem como a relação entre os dois?..na sua encíclica sobre amor:"Deus Caritas Est", pelo menos o papa Bento XVl ,afirma que Agapé não é inimigo de Eros e mais afirma entre outras coisas que para haver Eros também é preciso haver Agapé..polémica à parte e para não pensarem que leio as encíclicas todas (essa foi a unica que li) o que é certo é que o Frei Bento não se atrapalhou e respondeu bem..Mas imediatamente o padre Pedro aproveita a deixa, cai-me em cima e torna-me responsável pelo próximo encontro... eu e a malta do Alqueidão... nem procura saber se realmente estamos todos a viver no Alqueidão porque o certo é que não estamos e a logistica da nossa organização nunca será muito prática... Seja como fôr saio dai com a responsabilidade da organização do evento e da apresentação do tema nesse evento:A JUSTIÇA... Logo me apercebo que não vai ser um tema fácil e que também não sei se será fácil encontrar prelectores para abordar o dito tema... Desde logo a malta de direito terá uma posição previligiada, mas acontece que das moradas que me foram dadas eu não sei quem é de direito ou não... por isso contava com a vossa colaboração, para que possa contactar a malta de direito ou de filosofia e para que me possais dar a indicação sobre alguma figura proeminente, mas acessivel... e que algum de vós possa conhecer! Também aquele ou aqueles que queiram lêr e falar sobre o assunto... ou desde logo falar mas sem lêr... porque cada um terá a sua sabedoria de experiência feita... agradecia. Parece-me que este tema já terá sido abordado neste blogue, mas mais na explanação do que sejam certas injustiças e sobre as quais outros possam pensar ou comentar um abraço fraterno
José Carlos

terça-feira, 18 de março de 2008

SEMANA SANTA... por Fernando Vaz

Meus caros ex-colegas e sempre amigos:
Começàmos uma semana importante para todos os cristãos. Àqueles que frequentam as igrejas é-lhes pedido que rezem, que se convertam, que se confessem... Bom, vamos rezar, mas a quem?
-A um Deus que tem uma comptabilidade do bem e mal que fazemos?
-A um Deus perante o qual devemos curvar-nos, ajoelhar-nos ou prostar-nos?
-A um Deus que devemos satisfazer, contentar, com sacrificios e penitências?
Apresentado deste modo este deus seria tão mesquinho e tão miudinho que nem Deus seria. Parece que até podemos ofender muito a Deus com os nossos pecados. Alguns até seriam mortais!... O Papa acaba de acrescentar mais alguns a um catálogo já longo...Aguém que se possa tão facilmente ofender e mesmo matar, de certeza que não é Deus.
Então que Deus vamos rezar durante esta semana santa!
-Um Deus que criou a vida e que cada dia a inventa connosco.
-Um Deus de liberdade que luta com cada um de nós contra todas as opressões.
-Um Deus de eterno respeito que nos inspira e nos convida a dialogar e acolher.
-Um Deus de decisão que nos quer ver agir em nossa alma e consciência.
-Um Deus que se extasía com as nossas obras e nos transporta na sua luz!
-Um Deus para quem o pecado consiste na nossa falta de respeito por nós mesmos, falta de respeito pelos nossos semelhantes, falta de respeito pela sua obra!...

Este tempo, é também um tempo de reconciliação! Para enveredarmos por este caminho, meditemos nos dez mandamentos da reconciliação, da autoría do Cardeal Danneels:
1°Aceitar-nos, tais como somos e com alegria!
2°Pensar em tudo o que temos, e não no que nos falta!
3°Agradecer em vez de lamentar-nos!
4°Dizer bem dos outros, em voz alta!
5°Nunca se comparar aos outros: leva ao orgulho ou ao desespero, não à felicidade!
6°Viver na verdade, sem temer chamar bem ao bem e mal ao mal!
7°Solucionar os atritos pelo diálogo e não pela força!
8°Neste dialogo começar pelo que une , deixar para depois o que separa!
9°Dar o primeiro passo da reconciliação, antes do enoitecer!
10°Estar convencido de que perdoar é mais importante do que ter razão!

Despeço-me com um grande abraço para todos os que me lerem. Vou abusar um pouco mais da vossa paciência, propondo-vos este poema, ligeirinho mas não superficial, que a minha Geneviève escreveu para vós, frequentadores do blog.



MATIN DE PAQUES

Dès le lever du jour, cachée sous l’herbe tendre,
Une fleur a éclos. On aurait pu entendre,
Dans le profond silence, s’ouvrir tout doucement
Sa fragile corolle. Alors, timidement,
Osant s’aventurer, elle regarde autour d’elle
Et voit qu’elle n’est pas seule. Que la nature est belle !
Etalant leur blancheur, de tendres pâquerettes
Habillent les prairies. La petite fauvette,
Curieuse et intriguée devant tant de merveilles
S’interroge et demande : pourquoi ce chaud soleil ?
Pourquoi cet air si doux au parfum entêtant ?
Et ces tons lumineux. Serait-ce le printemps ?
Bien sûr, dit la mésange, mais c’est bien plus encore,
N’as-tu donc pas compris ? Et au cœur du décor
Toute la gente ailée fait monter vers les cieux,
Sur des notes divines, un chant des plus gracieux.
Amen, Alléluia ! Les cloches des villages
Se mêlent au concert et disent, d’âge en âge :
Christ est ressuscité ! Partout de par le monde
La nouvelle s’étend. Faisons tous une ronde
Et dansons notre joie : Jésus est bien vivant !
Venez et partageons ces instants émouvants.
Geneviève Vaz

O PRIMEIRO DIA...


Já faz tanto tempo que, perdido na bruma da minha história infantil deixei naquele gesto final de um pontapé na bola, velha amiga de tantas jornadas, um adeus saudoso áquela infância vivida algures nas serranias da Serra de Aire... sabia que queria ser um homem e escolhi para crescer esse ambiente de seminário para o qual o meu amigo João Frazão já havia rumado havia um ano sob influÊncia benemérita de seu tio Albino... A simplicidade e o coração ardentes seriam os meus companheiros naquela viagem com regresso a casa mas sem retorno na vida, porque o que se seguiria afectaria indelevelmente os meus passos para sempre... Já tomado o autocarro em Alqueidão da Serra, naquela manhã outonal a estrada fazia-se poeirenta entre buracos até Reguengo do Fetal... aí os quatros fedelhos, eu, o João, o Lucas e o Cecilio, haveriamos de aguardar no desamparo da nossa meninice, sem adultos por perto que nos protegessem, o próximo autocarro que mais sonolento e vagaroso que nós, nos haveria de conduzir a Ourém... as estradas eram sinuosas pelas muitas curvas que deambulavam por cima de Reguengo do Fetal e, já longe, prescrutavamos aquela aldeola pintalgada de branco e que por entre as serranias se vislumbrava no horizonte e assim pela ultima vez fixavamos a aldeia infantil que para nós ficava para trás - o nosso querido Alqueidão da Serra. Na proximidade de Fátima, naquela viagem que nunca mais terminava, havia algumas rectas naquele caminho dificil e que nem todos conseguiam ultrapassar sem vomitar... Passado aquele lugar e que a minha mãe tantas vezes me tinha afirmado ser santo porque nele a mãe de Deus fizera as suas aparições, caimos mais uma vez pelas curvas da encosta que de Fátima nos haveriam de levar a Ourém. Já os quatro fedelhos de Alqueidão se desesperavam de tanta viagem e mais uma vez teriamos de trocar de autocarro na estação de Ourém. Naquela hora já teriamos ultrapassado os horizontes e os limites do nosso mundo para não obstante continuarmos para uma aldeia distante ainda e que dava pelo nome de Aldeia Nova -Olival. mais uma vez as curvas no autocarro que nunca mais chegava ao destino, para por fim encontrarmos uma aldeia chamada Olival ... e, não obstante, ali não seria o nosso apeadeiro, mas um pouco mais à frente e acima num lugar que se apelidava de Aldeia Nova. Ai chegados o tempo da viagem era infinito e a minha infância tinha neste trajecto o seu mais longo e distante percurso. Outros vieram de bem mais longe mas para mim era demais. E chegados aos portões daquela casa enorme, ladeada por uma capela, encontravamos um grupo de garotos, cerca de 20, que numa algazarra quebravam o silêncio daquele recanto pacato... eram os miudos de Fátima que como nós haviam acabado de chegar... ... ...
Corria nessa altura o Outono de 1968.

José Carlos

sexta-feira, 14 de março de 2008

POR CAMINHOS NÃO ANDADOS

"POR CAMINHOS NÃO ANDADOS" Seminário dos Olivais 1945/1968 Coordenação de Artur Lemos
A viagem que hoje vos proponho é mais dirigida aos colegas/amigos que viveram no Convento de Fátima. São depoimentos muito diversos mas que são o reflexo de uma época que foi vivida intensamente. Aqui encontramos referências comuns de autores filosóficos eteológicos e bem como respectivas correntes litúrgicas, equipas de cinema e teatro. Feitura de revista e formas de receber livros editados em França. São tantas as vivências paralelas que julgo ser um "voltar a trás" no tempo e naquilo que nos marcou. São situações de que muitos de nós tivemos conhecimento e partilhamos.Para aqueles que, por qualquer motivo, tiveram que atravessar a fronteira, encontram aqui bastante informação histórica, mesmo sobre os acontecimentos do 25 de Abril.
Aqui deixo alguns nomes de participantes: Abilio Tavares Cardoso; António Jorge Martins; Artur Lemos; António Correia; AntónioLeitão; Avelino Rodrigues, Fernando Micael Pereira; Carlos Leonel; Carlos Capucho; Germano Cleto; Manuel Ferreira da Silva; Fernando Melro; Cláudio; Fernando Belo; Joaquim Alberto Lopes Simões; Joaquim Pereira de Sousa; José Luzia; João Andrade Peres.
O livro foi Editado pela Multinova. Av.S.Joana Princesa,12 E . 1700-357 LISBOA Mail: geral@multinova.pt
Votos de boa leitura.
J Moreno

quarta-feira, 12 de março de 2008

OPINIÕES E OPINIÕES



Para uma visão mais relativista das coisas, um texto de Mário Soares.
Cumprimentos a todos,
Jaime Coelho



PORTUGAL E O FUTURO
Mário Soares

Portugal é um Estado-Nação. Quer isto dizer que a Nação coincide em absoluto com o Estado, ao contrário do que acontece com a nossa vizinha Espanha, que é um Estado com diversas nações, isto é: com territórios bem demarcados, línguas próprias, histórias e costumes diversificados. Embora, após a Constituição democrática de 1978, as quatro nacionalidades históricas de Espanha, anteriores à Guerra Civil de 1936-1939 - País Basco, Galiza, Catalunha e Castela -, fossem envolvidas num sistema constitucional, que reconhece 17 autonomias - para iludir a velha questão que agitou os séculos XIX e XX. Perguntam-se hoje os constitucionalistas se foi uma boa solução? É duvidoso que tenha sido, apesar das múltiplas vantagens que trouxe ao desenvolvimento de Espanha.Em Portugal, com uma realidade unitária bem diferente da espanhola, nunca se pôs uma tal questão. Mesmo quando, depois da Revolução dos Cravos, a Constituição de 1976 reconheceu duas regiões autónomas de governo próprio, nos arquipélagos dos Açores e da Madeira, dada a distância que as separa do Continente.Vem isto a propósito da identidade de Portugal, como Estado-Nação, desde 1140, que é três séculos anterior a Espanha, como tal, só assim chamada depois do casamento dos Reis Católicos, Fernando e Isabel, e da conquista do Reino de Granada, aos mouros (1482). Portugal - reconheça-se - tem uma identidade fortíssima que resistiu à ocupação espanhola (1580-1640) - sobretudo no Brasil e noutras regiões do Império - e se manifesta ainda hoje, sobretudo nas diásporas portuguesas espalhadas pelos cinco continentes.E, no entanto, os portugueses, colectivamente, sofrem de péssima doença: desconfiarem de si próprios. E têm o estranho hábito de dizer mal - não no estrangeiro, mas em Portugal - de si próprios e da sua terra. É um mal que vem de longe, cuja razão não consigo explicar. Os portugueses, em toda a parte, são respeitados, como pessoas sérias, afáveis e trabalhadores. Gozam de justo prestígio e fazem excelente figura entre as outras comunidades nacionais. Muitos dos seus filhos adquirem instrução superior e alguns mais enriquecem.E, apesar disso, na sua terra, estão sempre a menosprezar o seu país: a parvónia, a piolheira, como lhe chamava o Rei D. Carlos, a choldra. Parece sofrerem de um complexo de inferioridade em relação ao estrangeiro… Sem qualquer razão de ser. A nossa história, que se desdobra por tantas regiões do mundo e deixou marcas em todos os continentes, é incomparável. A nossa cultura - em todos os sectores - não fica atrás de qualquer das dos grandes países europeus. Os monumentos portugueses, alguns património mundial, são centro de interesse - e de curiosidade - dos estrangeiros que nos visitam. Como a nossa gastronomia, afabilidade, os nossos pintores, escritores, músicos, cientistas e desportistas que, nos últimos anos, se têm destacado, em profusão, por esse mundo fora. A Revolução dos Cravos foi unanimemente considerada uma "revolução de sucesso", pacífica, pioneira e, finalmente, eficaz.Mas é o povo, com a sua cultura e sabedoria inata, que vem de longe na História, mesmo quando não é cultivado, que mais aprecio e em que mais confio. No entanto, reconheço que há portugueses azedos - entre as elites - que gostariam de ter nascido no estrangeiro e que não perdem uma oportunidade para desancar o seu país. Nunca os compreendi. Mesmo quando eram escritores de génio, como Eça de Queirós, ou grandes caricaturistas, como Rafael Bordalo Pinheiro ou pertenciam a círculos snobes como os Vencidos da Vida, com todo o respeito que me merecem as suas ilustres pessoas…Por mim, sempre me senti português dos sete costados - orgulhoso de o ser - e quanto mais viajo e comparo a minha terra com as outras, mais esse sentimento patriótico, mas não nacionalista, que é outra coisa, vem à superfície. Português, ibérico, europeu e, na medida da minha pequenez, cidadão do mundo…Tenho confiança no futuro de Portugal - e dos portugueses -, sempre tive. Mesmo nos anos cinzentos e tão tristes da ditadura. Durou de mais, é verdade, mas a liberdade chegou-nos, finalmente. Nos últimos trinta anos, Portugal progrediu imenso. É incontestável! E não é agora por a Europa estar em crise - e o mundo a entrar em recessão - ou por sentirmos, é verdade, "um difuso mal-estar" que os órgãos de comunicação social ampliam, que nós vamos perder a confiança em nós próprios e no destino português!

segunda-feira, 10 de março de 2008

NOVO CONTADOR ESTATÍSTICO

Sem qualquer razão aparente, pelo menos aos olhos de um medíocre utilizador da informática como eu, perdeu-se o contador de visitas do blog. Depois de porfiadas tentativas, foi recuperado o número de visitas desde a criação até 29 de Fevereiro último, que agora se adiciona ao actual contador, com novo figurino, outras opções e mais garantias de funcionalidade.

Peço a compreensão de todos, apresento desculpas e deixo um abraço

Nelson

sexta-feira, 7 de março de 2008

O TEMPORE! O MORES! (Ó tempo das amoras...) IV

'STREET RACING'

Segundo o DN, (04.03.08) a «Polícia assume dificuldade em travar o 'street racing'».

O primeiro passo para a legalização de algo ilegal e perseguido, é a confissão de impotência das organizações fiscalizadoras, em fazerem cumprir a lei. Por outro lado esta notícia funciona também como mensagem aos prevaricadores, de que podem actuar impunemente, porque não há fiscalização.

Portanto, preparemo-nos para dentro em breve assistirmos à concessão dos melhores troços de auto-estrada e das pontes com melhor piso, para a prática do “street racing”.

Aguardaremos de seguida por uma solução integradora do “car-jacking”. São actividades com alguma afinidade.

Mas desiluda-se o cidadão comum se pensa que pode testar os seus cavalos em qualquer auto-estrada. Porque aí surgirão de imediato as “autoridades” para o pôr na ordem. Porquê? Porque é pacífico, é respeitador e está sempre pronto a assumir as suas responsabilidades.

Nota O “street racing” é um crime (por agora) que supõe uma corrida organizada entre viaturas, com ou sem alterações estéticas ou motoras (o chamado “tuning”), envolvendo, geralmente, apostas entre corredores.

AA

terça-feira, 4 de março de 2008

EXPLOSÃO SOCIAL

A SEDES, associação que há largos anos se dedica ao estudo das questões económicas e sociais, divulgou num relatório recente: «sente-se hoje na sociedade portuguesa um mal estar difuso, que alastra e mina a confiança essencial à coesão nacional».
Esse mal estar surpreende-se nas conversas, nas notícias diárias, nos acontecimentos que fazem a nossa vida comum. E recuso ser pessimista, porém não podemos ignorar que uma funda inquietação perpassa pela vida real das pessoas. Silenciar essa crise, que vai minando a vida dos indivíduos, das famílias, da sociedade em geral, seria pactuar com esta perigosa situação de conflito social que se vem acentuando. Há também, hoje, como que uma desistência de ser cidadão. Há um cansaço civil que vai minando tudo. Um divórcio litigioso entre os governados e governantes envenena os valores democráticos e impede construir um projecto nacional que congregue e mobilize.
É que as pessoas não são tratadas como pessoas. Nega-se-lhes a saúde, demora-se-lhes a justiça, degrada-se-lhes a educação. A vida empobrece e não se alcança um horizonte de esperança. Somos contribuintes a quem, com aparato e promessas, se pede, de tempos a tempos, um voto. E depois das eleições, desmobilizadas as falanges com bandeiras e cartazes, calados os discursos, o cidadão verifica que as coisas se não pioram, também não melhoram.
Sente-se a desigualdade e a injusta distribuição da riqueza. Um estudo europeu vem dizer-nos que há, entre nós, um número crescente de crianças em risco de pobreza. Contudo, o lucro dos bancos nunca foi tão acentuado, apesar da crise. Os salários estão estagnados há vários anos.
Os discursos oficiais dizem-nos que vivemos no melhor dos mundos. Mas as pessoas, na sua vida real, sabem que não é assim.
Diz ainda o estudo da SEDES que o Estado deve urgentemente ouvir os cidadãos. Certo. A arrogância e a solidão do poder criam o vazio à sua volta e secam a vitalidade necessária à existência de um povo. Mas não basta ouvir. É preciso mudar na economia, na justiça, na saúde, na educação. O país não pode ser o lugar onde alguns passeiam o luxo e a ostentação e onde uma maioria suporta o insuportável. O rumo que levamos não augura nada de bom.
É preciso construir a esperança mas esta faz-se com factos reais, criando possibilidades de vida melhor e não com discursos.

Eduardo Bento